Quanto custa Pimenteiras?

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Quanto custa Pimenteiras?

 

Ontem, dia 30 de janeiro de 2017, o mês voou com tanta pressa, que tem momento que fico imaginando, que tem lugar que as horas passam,  mais rapidamente,  do que em outros. E quanto mais você se preocupa com tudo, mais o tempo é veloz. Porque o passar das horas tem a sua melodia e um ritual próprio, que é o da não existência. O tempo não existe. Será que o sol se preocupa com os minutos ou a lua para sua rotação em torno da Terra tem algum relógio? 

Ontem,  tive em Pimenteiras, na parte da tarde, depois de curtir uma chuva de vento em Cabixi, que aspergia regadores de aragem dentro de casa e sobre os pratos de comida.  Mas, passou. E pegamos o rumo de Pimenteiras, passando por dentro, atravessando estradas de chão que recebem nomes de Eixos. A primeiro Eixo, a segunda e assim vai. Achando que ganharíamos tempo pelo atalho da estrada de chão. Demorou mais e atrasamos, olhando pelo lado do cerimonial. Atrasamos, mas, do outro lado,  o que seria da vida se não fossem os atrasos? Neles a gente tem o tempo para a observação. Não houve atraso no sentido amplo do universo e do tempo,  mas, um admirável contato com a Rondônia que não conhecia, de banhados, aguadas, rios, pontes de madeira, estrada de chão lisa, plantações de soja, aves em bandos, nuvens em algodoais, bailando sinfônicas sobre nós.

Nada mais do que a rotina, dar ordem de serviço para duas pontes de concreto e anunciar mais dois trechos de pavimentação asfáltica entre as cidades de Cerejeiras e Pimenteiras. Esta última é uma das menores cidades do Estado, pescadores, ribeirinhos, festeiros do Divino Pai Eterno, gente sem pressa, onde se olha se vê gente parecida, uma consanguinidade histórica, de velhos alegres, de mães de muitos filhos, bolivianos próximos e o Rio Guaporé, bem ali, ao desfrute de todos.

As obras são de 41 milhões de reais. O que é isto? 41 milhões de reais para a menor cidade do Estado? Apenas, para facilitar acesso de pescadores esportivos, cargas de gado e carretas de soja? E o mundo girando em torno de Pimenteiras. Será que a minha foi uma merecida escolha?

Quanto vale Pimenteiras? Quanto vale o costal suave do Rio Guaporé? Quanto vale o Parque de Curumbiara, ainda puro e virgem, imaculado de natureza e plenitude? Quando vale morar ali e há 100 passos de casas trabalhar? Quando vale a contemplação e o seu silêncio? Quanto vale o ativo financeiro de Pimenteiras ainda não calculado por ninguém? E se medirmos o Índice de Felicidade Humana dos seus moradores, que me parecem desestressados, que se abraçam nas ruas, que sorriem de tudo, que não esnobam maquiagens, nem esmaltes, nem batons especiais, nem grifes e tem a base da alimentação a gastronomia dos seus antepassados a base do peixe e de outros bichos da região?

Quanto vale Pimenteiras? Quanto vale sentar-se no calçadão do porto e ficar olhando o nosso sol brasileiro se afundar na serra, do outro lado, na Bolívia? Quanto vale uma cidade que se orgulha de um festival de praia que faz uma vez por ano? E da Festa do Divino que de quando em quando é celebrada por ali?
É meu irmão, filosofar é a questão. E a resposta não precisa se dar. Deixe que Pimenteiras por si responda.

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