A menina Aikanã, terçã, quartã, vestida de água, mergulhada, quase sumida no ciclone
de si mesma, derramada de paz solene, que nem uma deusa mítica. A sereia
descabelada, esparramada no inconsciente de apenas existir. A aldeia é a Tubarão, ali
bem perto, Chupinguaia, onde tudo se engrandece, anoitece, amanhece e longe não
interessa, o que outros dizem, bradam, gritam.
Não.
Aqui é paz. Aqui é infinito. Aqui não se define. Ela se integra a natureza do seu lugar e
nada tem de maior riqueza, além do que simplesmente desfruta, graciosamente. As
águas bordam seu corpo. Que compõem visão de espetáculo e pintura mágica.
A quem interessa desfazer o sonho?
É a vida experimentada com doçura. Aikanã, terçã, quartã, mais do que simples rima. É
cidadã. Ela se sente bem, sem definir seu prazer, que pode ser aqui – felicidade, rito ou
comunhão. Quem sabe, simplesmente existir.
Seus cabelos de águas, corpo de águas-vivas, alma de águas imaginadas. E o rio desce,
lavando seu corpo, deixando o encanto. Glória a menina Aikanã: – quem sabe deusa.
Quem sabe peixe, ave, árvore, água.
Aikanã é sol poente, nascente, lua sobre o monte, sobre floresta, sobrenatural. E este
estado de sol poente, por quanto tempo durará? E o rio dourado, que vem de longe,
que não banha apenas Aikanã, será apenas imagem deste momento único? Muito
próximo há outro homem devastador.
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