Varonil (poema para os negros brasileiros)

Varonil (poema para os negros brasileiros)

neste país de terras, que em si plantando, tudo dá

debaixo da terra tem o sangue e o suor dos negros exauridos

por certo, os caminhos foram outros – transoceânicos cemitérios

sopa de corpos mastigados por tubarões nas travessias

 

sobre os vivos prosperou elites de fausto e pompa

nem o amor foi verdadeiro

a não ser o instinto e foram esparramados, deslinguados, desmiolados

para os eitos, enquanto longe o violino plange uma valsa de requinte;

 

sou o batuque e a descrença de poemas aflitos

palavras em cruz, agora, depois de tudo, não chegou o “depois”

e nem o “tudo””

o agora transviado por gerações, repercute a raça em todas as cores

sem ainda a conformidade de ser e conhecer ou mesmo sentir a própria posse

a marca foi cravada com ferro quente, ainda dói, e dói muito e assim, estamos

todos nós – dizendo: – até quando todas estas portas continuam fechadas?

 

06 de janeiro de 2020

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