Não sei lhe dizer de onde veio Ireno, se gaúcho, catarinense ou do Paraná. Casado com Lourdes Warcker e pai de filhos pequenos, quando vieram para Rondônia. Atraído pela família da esposa, veio também ele, no escuro das coisas, parar em Ariquemes, inicio da colonização. Ano certo, não sei, fim dos anos setenta. Fez seleção no Incra e pegou um lote de terra: um Burareiro, como foi apelidado propriedade de 250 hectares. A onda era o plantio do cacau.
Ele surfou na onda do cacau. Misturou-se com experiência dos baianos de Cacaulândia e aprendeu a lição. Procurou ser igual aos demais. Fez longas marchas a pé. Colocou “cacaio” nas costas. Derrubou a mata e fez o serviço. Pegou doença, corpo marcado por picadas de insetos. Só tem uma coisa, Ireno era diferente. Refinado, pianista, poliglota, católico praticante, culto, professor. Ele não se encaixava no meio de tanto aventureiro e centenas de garimpeiros e peões de trecho. Sofreu o que tinha que sofrer e muito mais. Purificou-se em vida de tudo. Lento e gradual foi se encaixando na cidade como professor. E foi se iluminando a si e a cidade. Exalava de dentro dele um respeito admirável. Marcou a cidade com a sua presença forte, tem seu nome em escola, deixou nos céus de Rondônia a sua energia positiva e retornou mais tarde às suas origens sulistas. Não tenho a foto do Ireno nem velha e nem nova, mas, deixo ao lado, a sua obra, alunos da sua escola integral praticando capoeira.
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