Câmara hiperbárica

Home / Poemas e Crônicas / Câmara hiperbárica
Câmara hiperbárica

Dias atrás alguém me disse que governar é estar dentro de uma câmara hiperbárica. Para você entender o que venha ser uma câmara hiperbárica, em 1988, quando era Secretário de Saúde do Estado, comprei uma e a instalei no Hospital de Base (HB) para tratamento de afogados no Rio Madeira.

Naquele tempo, a extração de ouro era feita na base do mergulho bruto, mais ou menos suicida, e o camarada, nem queria saber se iria morrer ou não, queria o ouro e a sua parte. Mergulhava com uma mangueira na boca, apetrechos improvisados, a outra ponta da mangueira lá fora. Ele puxava o ar e soltava por ali mesmo. Vinha além disto, da má oxigenação, o peso da água sobre o corpo, ouvidos, cérebro, uma diferença imensa de pressão e o camarada, muitas vezes, era puxado pra fora, entre a vida e a morte.

A câmara era uma máquina cilíndrica, onde o doente era colocado dentro, com imensa falta de ar, e se botava pressão na máquina, como se fosse o fundo do rio, com o intuito de liberar oxigênio puro, e depois regressivamente, a pressão caminhava para a normalidade. Era esse o tratamento para os afogados, na fase bem aguda do infortúnio.

O meu amigo, uma vez me disse, que governo é mais ou menos a mesma coisa. A cada dia surge uma pressão. Então o amigo me recomendou que eu fosse atrás daquela velha câmara hiperbárica do HB, para à noite, ficar lá dentro até que eu voltasse a normalidade.

Deixando de lado as brincadeiras, alguma coisa tem de verdade, na comparação feita. Os sábios ensinam que durante a alta temporada de pressão, a melhor coisa  é não fazer nada. No meio de uma conversa tensa, sair um pouco, ir ao banheiro, olhar no espelho, contar até 10  e dar umas respiradas bem fundas para oxigenar o cérebro. E depois de tudo, criar coragem e dizer NÃO. Depois, é deixar o tempo rolar, porque em sua sabedoria, tudo se acalma, tudo se acomoda.

Deixe um comentário

Seu endereço de e-mail não pode ser publicado.