Se o Corona viesse há quarenta anos em Dianópolis

Se o Corona viesse há quarenta anos em Dianópolis

Se essa pandemia “nojenta”
Que tá tirando a nossa paz
Matando velho de medo
E moça sem ver o rapaz
Queria ver a realidade
Se chegassem em minha cidade
Há quarenta anos atrás.

Lá no Banco da Tesoura
Era aquele baixo-astral
Sem seu Clides e Seu Dodô
Seu Josino e Zé Vital
Sinésio e tio Otavinho
E os demais ali cedinho
Na reunião matinal.

Queria ver Tia Joaquininha
Não ficar ali de pé
Sem fazer doce caseiro
De Banana São Tomé
Do jeito que ela era
Sei que ia virar uma fera
Sem vender seu picolé.

Solon Póvoa resmungando
Com seu Djalma Parente
Seu Bera pedindo calma
Do seu jeito paciente
Seu Zé-Té por ser zangado
Aposto que teria xingado
Do papa até o presidente.

A praça da igrejinha
Tava aquela solidão
Tirando Gil do Táxi
E o posto de Geovazão
Com o resto trancafiado
Até São Jose tinha vazado
Lá pro altar da Missão.

Na Praça Getúlio Vargas
Era de dar depressão
Logo depois do almoço
Sem aquela multidão
De gente de todo jeito
Desde o gari ao prefeito
Na maior descontração.

Um homem vendendo alho
E engraxate sem camisa
À sombra das gameleiras
Sentindo o sabor da brisa
Abelardo contando estória
Com sua genial memória
Junto com a turma do CRISA.

Primo Edilton ali no meio
Era o “Senhor da Praça”
Contando causos brilhantes
Ricos de sabor e graça
E Chico do Pé-Doente
De longe lá no sol quente
Querendo fazer pirraça.

Pois Chico tinha o prazer
De dizer que era valente
Se o mandasse ir pra sombra
Ele queimava no sol quente
E quando o tempo esfriava
No meio da praça amoitava
Nem que lá batesse o dente.

Sem Tio Boanerges e Leônidas
A praça não tinha alegria
Seu Hagaús até passava
Porém, ficar era uma fria
Pois sempre tinha eleitor
Pra lhe pedir um favor
E disso ele bem sabia.

Sem seu Augusto Cego
Vendendo jaca e mamão
Suriano caçando briga
Com um litro cheio na mão
Sem gente contando prosa
E sem a banquinha famosa
De quebra-queixo do Dizão.

Ainda bem que a pandemia
Veio nascer noutras matizes
E se o seu tom é sombrio
Lá não fincou suas raízes
E nem manchou de tristeza
A saudade e nem a beleza
Daqueles tempos felizes.

Poesia de Zanone Rodrigues

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