Roberto Campos

Roberto Campos

Quem não o conheceu, posso dizer que perdeu muito. Ainda há tempo para se redimir, lendo a sua biografia e suas obras.

Eu dou graças por ter convivido com ele, quando deputado federal, entre 1995 e 1998. Jamais poderei dizer que fui colega dele. Impossível para mim. Eu vinha chegando, leigo, bitolado, médico de roça, lógico, me colocando no meu devido lugar.

Roberto Campos com 78 anos, magro, discretamente arqueado, cabeçudo, mas, lépido no andar e muito mais na sua fala. Ele se sentava no Plenário da Câmara dos Deputados, num cantinho, preferia ficar sozinho observando, também pudera, conversar com quem? Quem poderia entendê-lo e quem sabe puxar um assunto que ele se interessasse?

Algumas vezes eu ficava por ali, ao lado ou atrás, para quem sabe “pescar” alguma opinião. Transcorria o governo FHC. Luiz Eduardo Magalhães presidia a Câmara. O PT fazia uma oposição competente. Votava contra tudo. Mesmo que tivesse utilidade. Mas, votava contra.

Roberto Campos não era de ficar discursando em vão. Nos grandes temas como privatizações, redução do tamanho do Estado, combate à inflação, quebra de monopólios, ajuste das contas públicas, livre negociação dos contratos trabalhistas, aí sim, virava uma fera indomada. Logo se inscrevia para falar a favor dos temas, geralmente, em divergência às ideias do PT.

Era um debate belo. Eu ficava absorvido. Ele subia os degraus cautelosamente para chegar à tribuna. Arrumava os óculos. Olhava o plenário inteiro. E havia um silêncio absoluto. Muito difícil fazer o plenário se calar e prestar atenção. Ele conseguia.

Não se exaltava, não esbravejava, não ofendia – simplesmente defendia o seu pensamento liberal (Friedrich Hayek) e por incrível que pareça, era aplaudido por todos. Pela sua inteligência, pela convicção, pela chama da sua doutrina econômica.

Concluído o seu segundo mandato como deputado federal, não conseguiu se eleger a uma vaga ao Senado. Nem por isto parou. Entrou para Academia Brasileira de Letras onde enfrentou Celso Furtado e Ariano Suassuna. Roberto Campos me convencia, ganhei argumentos novos, muita honra de ter convivido com ele.

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