Considerações sobre o Global Teacher Prize, prêmio anual concedido pela Fundação Varkey a professores de destaque no mundo, tendo como ganhador o professor queniano Peter Tabichi

Considerações sobre o Global Teacher Prize, prêmio anual concedido pela Fundação Varkey a professores de destaque no mundo, tendo como ganhador o professor queniano Peter Tabichi

SENADOR CONFÚCIO MOURA (MDB/RO)
32ª Sessão Não Deliberativa da 1ª Sessão Legislativa Ordinária da 56ª Legislatura
Plenário do Senado Federal
25/03/2019
Aparteantes: Paulo Paim

O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB – RO. Para discursar.) – Sr. Presidente, Srs. Parlamentares presentes, dizem que no Senado e na Câmara dos Deputados, a gente termina aprendendo muito de ouvido. Não é? Só em ouvir os companheiros, ouvir as experiências, ouvir o Paulo Paim, ouvir o Chico, ouvir outros tantos, a gente termina adquirindo um conhecimento muito grande e ficando, assim, mais aliviado até para as nossas participações.

Mas eu volto aqui hoje, Sr. Presidente. Eu estive lendo sobre os dez melhores professores do mundo, e a escolha do melhor de todos saiu para um queniano chamado Peter Tabichi. Eu percebi que todos eles têm, em suas aulas, como objetivo central a ciência e a tecnologia, em suas variações diversas. A partir de questões simples, conseguem obter excelentes resultados para seus alunos, transformadores.

Mas em todos os casos, o que observei foi a notória participação e a dedicação desses professores, o envolvimento, os objetivos claros, a vontade de mudar, a transformação dos seus alunos e suas vidas, e uma crença, uma esperança, uma convicção enorme em humanização, humanitária, inclusive, sobrenatural, parece até, na mudança das condições de vida desses alunos pobres. Apenas vi pessoas se interessarem por pessoas, fazendo de sua experiência profissional um legado e não apenas um rito de passagem.

Não vi abordagens sobre reconhecimento financeiro, pedidos de aumento de salários, não ouvi essas queixas nem sobre melhoria de infraestrutura. Ninguém falou nisso. Por sinal, esse ganhador, Peter Tabishi, trabalha em condições desumanas, numa área rural, com um computador só, com uma internet péssima, e, assim mesmo, foi eleito o melhor professor do mundo.

Eu vi a crença e a esperança em tudo isso. Eu vi que todos se envolver de corpo em alma na criação de oportunidades para os seus alunos, para que alcancem, através de experiências extracurriculares, a melhoria do desempenho de gente pobre.

Eu quero saudar aqui e homenagear a professora brasileira Débora Garofalo, que ficou entre os dez melhores professores do mundo, da Escola Ary Parreiras, da cidade de São Paulo, que trabalhou os benefícios do lixo, que foi transformado em sucatas e usado na robótica. A iniciação da informática através de objetos encontrados na rua e a sua mensagem que o lixo é uma das causas das enchentes e transbordamentos e mortes nas cidades.

E como eles, os melhores do mundo, há outros tantos professores, Sr. Presidente, Srs. Senadores, que, isoladamente, se rebelam contra a mesmice e o lugar comum das escolas e enchem de entusiasmo os seus alunos, criam neles sentimentos novos de transformação, de desejos por oportunidades, de vontade de serem cidadãos completos, mesmo na situação de dificuldade e pobreza em que se encontram.

O Global Teacher Prize, organizado pela Fundação Varkey (Nobel da educação), escolheu ontem o professor queniano Peter Tabishi, que trabalha em uma escola rural de uma comunidade pobre, onde um terço de seus alunos é órfão e 90% é extremamente pobre, e ele ainda doa 80% do que ganha de salário para as causas e as necessidades essenciais da sua comunidade.

Tabishi merecidamente recebeu o prêmio de US$1 milhão. O evento aconteceu ontem, dia 24 de março, na cidade de Dubai, Emirados Árabes.

Não há outro caminho para melhorar a educação em nosso País que não seja pelo professor. Na verdade, há uma onda de pessimismo muito grande entre eles aqui em nosso País. As causas são variadas, até desconhecidas. Há quem diga que seja falta de proteção ao nosso professor. Como se diz, o professor está abandonado à própria sorte dentro da sala de aula e, cada vez mais, se virando como pode.

Na sala de aula, o seu controle não é fácil, Sr. Presidente. Dentro dela está uma amostra da sociedade brasileira e de todas as suas mazelas, meninos que vêm de classes sociais pobres.

Não só por isso, a pobreza, mas dos padecimentos e consequências da desigualdade social, da violência, da desestruturação familiar e do tráfico de drogas.

O nosso professor está diante deste quadro: o desnivelamento dos alunos, o pouco aprendizado nas séries iniciais, a indisciplina, a falta de respeito, o enfrentamento da delinquência no entorno das escolas e as consequências das drogas dentro e fora do ambiente escolar.

Aí que surgem, neste oceano de complexidades, os professores heroicos, criativos, que se ajustam a este aparente caos para mostrar que há solução. Mesmo que ainda sejam iniciativas isoladas, dá para se acreditar na mudança e que a escola seja o maior núcleo transformador do nosso País, através da melhoria da qualidade da educação.

E, pouco a pouco, ir preparando, ajudando, apoiando os nossos professores. Desde a imensa sobrecarga de trabalho, com 40 horas num contrato, às vezes, no Estado, e 20 horas em contrato no Município e ainda no sábado com trabalho em escolas particulares; além disso, cuidar da família, da saúde e da voz, pois os professores falam o dia inteiro e ficam roucos, com dificuldade, da aparência pessoal e do equilíbrio psicológico. Tudo isso é abalado.

E, diante de tudo isso, surge o trabalho dos sindicatos, que basicamente centram fogo no dinheiro e no convencimento dos professores para as greves, na baixa produtividade, no apoio de todos, aproveitando essas fraquezas, esses espaços vazios na consciência da maioria para a conclamação ao “grevismo” brasileiro. Ao contrário do que poderiam também fazer, que seria ajudar os professores – os sindicatos têm dinheiro –, orientá-los, oferecer-lhes apoio na área de saúde e fiscalizar também a qualidade da educação das crianças.

A situação resistente e persistente da má qualidade da educação brasileira tem muitas causas.

Eu vejo, Sr. Presidente, que, do mamando ao caducando, do Oiapoque ao Chuí, é quase sempre a mesma cantilena: a má qualidade da educação em todos os cantos. Parece que é um efeito de vasos comunicantes, transmitindo de um para outro toda essa situação de pouca preocupação com que o aluno realmente aprenda, seja nivelado e aprenda os princípios básicos da leitura e da matemática básica.

A saída de tudo isso só se consegue com bons e exemplares professores e com uma política com foco determinado no aprendizado do aluno.

Sr. Presidente, um delegado de polícia, um agente penitenciário, um policial federal e um policial civil, ao serem aprovados em concurso, têm um período de alguns meses para cursarem a academia de polícia. Nesse período, eles aprendem as rotinas, os protocolos, a legislação, a dura vida na atividade. O professor não. Ele faz o concurso e, se aprovado, vai direto para a sala de aula, sem ainda entender a complexidade de dirigir uma sala de aula tão complicada. Sem o preparo adequado, o professor jovem é ali jogado de qualquer forma, para se virar como bem entender, como um milagreiro, até mesmo ao desespero.

Bons exemplos não faltam, como é o caso do Prof. José Antonio Abreu, professor e maestro venezuelano, falecido há exatamente um ano e um dia – ele faleceu no dia 24 de março de 2018 –, criador do maior programa de música em comunidades do mundo. O Prof. José Antonio Abreu foi autor do Sistema Nacional das Orquestras Juvenis. Seu mais destacado discípulo foi o maestro Gustavo Dudamel, da Orquestra Sinfônica de Gotemburgo, na Suécia, diretor musical da Orquestra Sinfônica de Los Angeles, nos Estados Unidos. Ele foi aluno de José Antonio Abreu. Ele atingiu a marca fantástica de 900 mil alunos estudando música e 10 mil professores.

Como poderemos elevar a motivação dos nossos professores, Sr. Presidente? O MEC, Estados e Municípios poderão exercitar modelos já de sucesso existentes por aqui. Não precisa inventar a roda. Vamos copiar as boas práticas experimentadas e que deram certo em muitas escolas, por iniciativa dos diretores, professores e prefeitos.

Há necessidade de se criarem mundos diferentes para os alunos. Há necessidade de se criarem novos desejos e ambições em nossos alunos, para eles saírem de suas rotinas e verem que há outro mundo bem diferente, outras linguagens, outros idiomas. A educação de qualidade é direito, não é letra morta da Constituição e das leis, além das boas intenções. A desigualdade vem, em grande parte, da desigualdade na educação, na má qualidade do seu aprendizado.

Não se pode politizar a educação. A nova política, tão falada hoje, deve começar pela escola. Não se pode indicar diretor de escola por Vereador, Deputado, Governador ou Prefeito. A escola necessita de formação de lideranças escolares sempre, como se faz no Banco do Brasil, nas Forças Armadas, na diplomacia brasileira, nas Policias Militares. Sempre há promoções, cursos, cursos de cabo, cursos de sargento, cursos disso, curso daquilo. Já na educação não há. Poucos são os planos de carreira, em que a pessoa cresce através de promoções, fazendo cursos durante a carreira. O Banco do Brasil faz isso com frequência. No Brasil inteiro, com o professor, geralmente, não é assim.

Então, Sr. Presidente, eu encerro as minhas palavras. O estímulo à criatividade e fugir do modelo de aula do século XX são deveres de todos.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT – RS) – Senador Confúcio Moura, só um minuto, para meus cumprimentos.

O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB – RO) – Tá. Muito obrigado.

O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT – RS. Para apartear.) – V. Exa. é um mestre aqui para todos nós. Nós tínhamos, num passado recente, o Senador Cristovam, que se dedicava muito à essa área da educação, mas, ao ver V. Exa. homenageando os professores, eu não me contive. Já falei demais hoje, mas cumprimento V. Exa. Os professores têm que ser homenageados, como V. Exa. faz, todos os dias, todo mês, todo ano, porque são eles que dirigem a vida das nossas vidas e das gerações do presente e do futuro, porque, se não estudarmos, não vamos a lugar nenhum.

Parabéns a V. Exa.!

O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB – RO) – Muito obrigado, Senador Paulo Paim. O senhor é extremamente generoso nos seus apartes, que dão qualidade ao que falo aqui.

Eu fico muito satisfeito, honrado pelo fato de o senhor se dirigir a mim e complementar o meu discurso com as suas palavras sábias. O senhor é um Senador de um altíssimo nível. E o senhor não é oposição, não é do lado da oposição. O senhor não é oposição. O senhor é um homem conceituado, um homem de grandes conquistas. Onde o senhor colocou a sua mão, a pedra virou ouro. O senhor é um Senador precioso, valioso, honrado, digno, merecedor de todo o respeito do povo brasileiro.

Muito obrigado.

O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT – RS) – Sou eu quem agradeço. Muito obrigado, Senador.

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