PROFISSÃO: “GRILO”

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Viajo semanalmente de avião sobre Rondônia. E vou olhando pra baixo. Tem vez que vou contando as derrubadas no meio de áreas de conservações. Ano passado num voo entre Buritis e Nova Mamoré contamos 47 áreas novas de desmatamento.

É uma paz  olhar o verde harmonioso da floresta protegida. A sua serenidade. E fico imaginando os mistérios e revoluções que existem em seu meio. A dura vida da sobrevivência dos animais. O predador comendo o animal lento e menor tamanho. A vida em movimento, aparentemente, inexistente na natureza revolucionária. Os rios desenhando curvas, montanhas com fisionomias florestais diferentes, vales espremidos pela realidade possível. Tudo é belo e encantador.rio.grilo

Quando se afunila o olhar, como uma águia, percebe-se  um agressor esperto por ali. É o grileiro. Um profissional destemido, sem limites, valente, entra na mata, abre a picada ou varador. E no ponto certo, mete o motosserra e derruba uma marcação. Tudo é bem pensado.  No “grilo” tem o líder, que mede com corda ou contrata topografia. Vende pedaços do “grilo” como se dele fosse. Tem ótima comunicação  na vizinhança. Quando vem fiscalização ele é avisado. Mais ou menos como o sertanejo na Guerra de Canudos.

A “marcação” é para fugir dos controles do IBAMA e SEDAM.  “GRILO” ou marcação não é solitária. Cada “grilo” tem um dono: Grilo do João, grilo do José, grilo do Sebastião. O grileiro leva outros grileiros. Que ficam  uns distantes dos outros. Primeiro vendem a madeira do “seu domínio”, os outros também. E constroem ali os barracos. Tudo isto é feito no período chuvoso, para despistar a fiscalização. E vão botando fogo e tudo aparece como acidente. 

Se você retornar cinco anos depois, a floresta inteira foi ao chão. Aí o “grileiro” se enche de razão. Diz que tudo aquilo é da União. Monta uma associação de produtores rurais. Elege o “cara-de-pau” do presidente. Arruma apoio político. E quer documento para pegar dinheiro no banco.  Os grileiros são como ratos em depósito de rapadura ou farinha. Quando não comem tudo, empesteiam o paiol.  O “grilo” se combate é com cadeia. Pegou o cara fazendo “grilo”, helicóptero desce, tasca fogo no barraco e pega o cara e cadeia. Não tem jeito. Não tem conversa. Não tem meia sola. As unidades de conservações são sagradas, pertencem às  futuras gerações. Aos ratos,  as ratoeiras. E o combate ao “grileiro” deve ser uma política de Estado. De salvação das florestas, unindo Força Nacional, aviões da Forças Armadas, tecnologia de radares, ataques por terra e ar.  O “grilo” é como impingem no couro cabeludo. Se não tratar o cabelo cai por inteiro. 

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