O salto no escuro (uma história da pandemia COVID-19) Capítulo 11

O salto no escuro (uma história da pandemia COVID-19) Capítulo 11

Este deveria ser o primeiro capítulo desta série. Fui amontoando ideias e terminei deixando a minha rotina para depois. A pandemia trouxe o único trunfo disponível para impedir a sua propagação avassaladora: – o isolamento social. Eu fiquei em isolamento desde março. Não foi um isolamento completo, porque peguei mais um compromisso extra, o de presidir a comissão do Congresso  que cuida da calamidade e suas consequências dentro do orçamento e do ajuste fiscal.

Sempre fui madrugador. Dei as minhas escapadas nas madrugadas para caminhadas. Usei máscara e encarei as ruas desertas. Estou em Brasília. Optei pelo confinamento por aqui mesmo. Como sou viciado em exercícios físicos, assim continuei. Há pouca gente na rua nessas horas ermas e frias de Brasília. A musculação faço em casa. Peguei uns ferros emprestados, aprendi a seguir no youtube exercícios variados e taquei o pau.

Não fui radical no isolamento. Claro que usei máscaras. Mas fiz compras, mercados, farmácias. Fiz o check-up anual, bateria de exames e até descobri que a minha câmara anterior do olho estava achatada, quase grudando a córnea à íris. Ângulos de drenagem bem fechados. Dois médicos divergiram em condutas. Um optou por laser. O outro para remover o cristalino e colocar lente fina.

Optei pela lente. Saí mal. Comprei novos óculos. Caros. E talvez nem precise deles. Afobei. Conduzo as audiências públicas do meu Gabinete no Senado, terças e quintas. Pouca gente. Não deixa de se correr riscos. Mas, vou lá. E faço exames de nasal e da garganta a cada 14 dias. Vou seguindo.

Como adoro filmes, em casa, o tempo urge. Assisto documentários e filmes. Quase todos os dias. Leio dois jornais inteiros, a Folha de São Paulo e o Estadão. A equipe tem me ajudado demais a produzir projetos de lei que almejam socorrer as pessoas e trabalhadores desempregados. Há um funil na pauta, maioria fica sem ser apreciado. Ou guardado para um futuro incerto.

Ajuda no serviço da casa. Deixei a Isaína (secretária) para trabalhar três vezes por semana. Ela pega ônibus cheio. Vem em pé, colada aos outros passageiros de Águas Lindas em Goiás a Brasília. Nestes dias faço o café da manhã, arrumo a mesa, cuido dos mínimos detalhes. Esquento pamonha para Alice, quase todos os dias. Ela é viciada em derivados do milho. Eu sigo a dieta da Lita (nutricionista rigorosa e brava). Deu certo. Emagreci 10 quilos.

Pego livros. Leio. Me meto a fazer algumas poesias. E vou tocando a vida, que nem vejo o dia passar. O confinamento para mim não foi torturante. Gravo discursos em vídeos. Defendo o Fundeb. E luto aqui, para meu desespero, para que se melhore a educação no Brasil. Fico desolado com a nossa história. Com os brilhantes políticos que lutaram tanto pela educação como fator indispensável para melhoria do Brasil em todos os sentidos. E todos saíram frustrados. Faço a minha parte com imensa devoção, acreditando que comigo será diferente.

Minhas mãos estão ressequidas de tanto álcool em gel. Peguei um TOC (transtorno obsessivo compulsivo) em lavar as mãos. Acho que esta será uma das boas contribuições da Covid-19. Da minha parte eu fico por aqui. Alice (minha mulher) tem se apresentado mais entediada. Ela aproveita o tempo disponível para dormir. Pegou mania de comer doce. Eu brigo com ela. Tomar refrigerante, que não tomava, uma preguiça incrível para fazer exercícios. E adora potes de pipoca.

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