Não sei o porquê: a dor, prazer e o poder

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Meu avô paterno se chamava Francisco Moura. Ele foi Prefeito de Dianópolis, quando ainda se chamava São José do Duro, Goiás (Tocantins), na década de 30, quando por ali não havia mais que 10 ruas tortas. Uma praça cheia de malva, um monte de jegue urrando  e o gado pastando. Os cachorros vira-latas enfileirados atrás da cadela no cio. francisco.praçavaca

Possível que tenha sido nomeado, era tempo de ditadura Vargas.  Ele foi prefeito, quando nada tinha a fazer e nem dinheiro nos cofres da municipalidade. Ele mesmo pegava a foice, enxada, o chapéu de palha e saia cedo para roçar o matagal das ruas. De feito nobre e relevante, apenas, uma ponte de madeira, feita no capricho, de aroeira sobre o Córrego do Getúlio. Mais nada. Não deixou nome em nenhuma rua. E ninguém sabe se ele existiu por lá.

Por quase nada, mas, só para se dizer prefeito, ele assim foi feito, quem sabe, apenas, por assinar alguns papéis, mandar cobrar, de quem não tinha nada, algum tributo ou mesmo ser tido ali considerado autoridade? Nada explica estas estranhas vontades. Eu fico aqui pensando com meus cotovelos, um cara ser prefeito só para capinar e roçar a malva da rua? Bem estranho este forte desejo.

O camarada desde cedo começa com estes sestros da política, na cabeça ou nas veias. Parece que tem o diabo por dentro desde o nascimento. Primeiro inicia a vida como puxa-saco. E vai puxando, em muitos casos a vida inteira. De vez em quando, algum deste animal estrambótico se encaixa num cargo. E lá vem a história humana dizendo e escrevendo: governar é sofrer. É guerra, é traição, é dominação, é inveja e um mundo de coisa, quando não se morre ou se mata por este sagrado desejo de ter um poder do tamanho de um grão de areia até uma duna no deserto.

Agora, chegou ao ponto que eu queria chegar: – o estranho desejo pelo poder. O poder do meu avô Francisco, ser prefeito para pegar na foice e roçar a capoeira. O poder do galo no terreiro. O poder de carregar o andor no dia da procissão. O poder de ser o festeiro da Festa de São José ou  ser o Capitão do Mastro. O poder de ser o cacique da tribo ou Rei de Roma. O poder é uma doce e trágica ilusão, porque ele não existe. O poder do rei é a coroa, que passa de pai pra filho. Como se diz – o poder é um símbolo que não tem dono. E ele passa através das gerações de bichos e homens. Creio também, que o poder é uma necessidade de ter alguém, que não seja cem por cento normal, para que todos os demais, sobre ele coloquem suas mãos e lhes transfira dores e necessidades.

 

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