MATOPIBA: O Homem cavalgando o tempo

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MATOPIBA: O Homem cavalgando o tempo

MATOPIBA é MATOPIBA. No dicionário não tem. Não tinha há 60 anos e nem em 50. Veio depois MATOPIBA. Ali no MATOPIBA tudo era igual. Tudo se misturava na mesma coisa. Não havia cerca que dividia MATOPIBA. Porque eram terras ermas. O sertão do sertão, o mais profundo deles. E o homem estava por lá, mas, apenas via, não sentia o que poderia ser MATOPIBA. E agora vocês querem saber o que venha a ser esta palavra estranha. São as iniciais dos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Eu sou do MATOPIBENSE.

Tudo era perto e tudo era longe. O gado curraleiro solto nos gerais. Gerais era o nome das campinas de brejos e buritizais. Tudo sumia de vista no MATOPIBA, mordido na distância pela Serra Geral, cortado por rios de águas cristalinas, derrubado por cachoeiras azuis.  O Rio de Ondas (BA), águas do Jalapão (TO). De um cerrado ralo. Cheio de tatus bola e canastra. Cheio de veados catingueiros. De emas, seriemas, cobras cascável e coral. Gato do mato, mocó, avenidas largas de buritizais entupidos de araras e periquitos. No mais era areia. Areia que atolava carro-de-boi. E os tropeiros indo e vindo. Levando couro e carne de sol, charque para vender para Sabino Dourado em Barreiras. As terras não tinham donos. E se tivessem não sabiam dos limites.Tudo era assim mesmo, no olho. Terras incomerciáveis, porque não valiam nada. Quem poderia comprar areia e canela-d’ema, cerrado de capim provisório, brejarias?

Mas, agora, tudo mudou. MATOPIBA  transformou-se. Mais de 300 municípios dos quatro Estados fazem parte deste território muito especial. São terras de produção de soja, arroz, algodão, frutas, peixes, milho e riqueza. Veja Barreiras, Luiz Eduardo Magalhães, Ponte Alta, Corrente, Correntina, Angical, Porto Nacional, Almas, Balsas, Açailândia, Dom Pedro, Dianópolis e outros 300 mais. MATOPIBA ficou guardada no olhar apagado da minha avó que foi tropeira por aquelas bandas. Pela família Wolney de todos os tempos que debaixo de imensa ousadia chegou pela primeira vez,  com carros-de-bois carregados de mercadorias, por mais de 60  léguas à Barreiras.

MATOPIBA que viu o Zé Pacote tangendo burros e cavalos pelos areões até a morte, velho com 45 anos. MATOPIBA que viu meu  avô Francisco Moura fugindo de perseguição de revoltosos de Corrente e Gilbués vir se acomodar na Fazenda Gameleira, Angical na Bahia. E tudo era nada. Como num deserto de escassez, tudo escondido na ignorância de outros tempos, que era assim mesmo, só a fé na desolação. Não se ouve mais o pilão socando arroz com casca, nem o milho transformado no fubá, nem o porco no chiqueiro do quintal cevando. Nem as famílias à porta da casa olhando e contando estrelas no céu.

Era assim. E a cada 10 anos tudo foi mudando, foi mudando, foi mudando. Hoje, montado no 2016,  um fascínio, um filme de ficção aconteceu se olhado dos anos 50. E tudo ficou espetacular. Sei lá! Dei esta volta toda, para dizer a vocês, que nem tudo melhorou tanto assim. Porque não sei dizer pra vocês se MATOPIBA é mais feliz do que os ermos e gerais de outros tempos. Pelo lado do dinheiro, claro que sim. Mas do lado das campinas, dos brejos, buritizais, dos bichos, do baru, do caju, da gabiroba, não sei, meu irmão, nao sei. Só sei que nada voltará a ser como antes.

E que o Brasil de 2015 não cabe no Brasil de 50. O matopibense de priscas eras, tinha uma marcha diferente, um jogo de braços destrambelhado, um sotaque muito diferente do nordestino de escola, um vocabulário de dialetos,  era um atraso do limite ou a sabedoria da própria invencionice. Gente não sabia pra que servia o Jalapão, nem o que viria a ser turismo, palavra que não se tinha, de tão avexado o matopibense sofria de bullying por onde andava, tal como se fosse um pré-histórico dos desertos das arábias. Mas, o bicho sertanejo, apenas, fingia de besta, parecia besta, bololeléu, bem por dentro, tinha a genética fantástica da superação.

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