Jerônimo Santana: O Bengala

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Tenho escrito alguns posts sobre Jerônimo, sobre casos vividos por nós. E tem muito mais. Tirando as brincadeiras, porque ele era assim mesmo, um leitor voraz, de jornal a livros, a contemporâneos e clássicos e escritor.  Ele comia tudo. Livros. Teve alguém que me disse que ele mastigava guardanapo. Nunca vi isto. Ele me introduziu na política, meio na marra, vim puxado de Ariquemes pra cá. Alice chorou de lá até Porto Velho. Nunca tínhamos separados. Ele fez a profecia: você nunca mais será o mesmo. Perdi o meu marido.jeronimo

 

Fui servir ao Governo Jerônimo na Secretaria de Saúde. Eu um besta quadrado, não conhecia nada de saúde pública. Nunca tinha visitado o Hospital de Base, nem a Secretaria, nada. Vivia no mato, tratando bicho de pé, malária, unha encravada e doenças da miséria. Saí de lá por capricho do Bengala e por ter me tornado, ao longo do tempo, um grande puxa-saco dele. Mas, sem pedi nada, porque não sabia de nada. Só queria ter o gostinho de vê-lo governador. E mais nada. Mas, ele achou que eu era o bicho da goiaba. E o bobão veio. Substitui o querido Dr Sérgio Carvalho, que ficou meu amigo e me ensinou quase tudo. E eu comecei a inventar moda. A pensar em grandes hospitais, em plano de cargos, a valorizar servidores, estas coisas todas, que nunca se acaba de fazer, até o fim dos tempos. 

 

Um dia Jerônimo ficou com raiva de mim. Não sei por que, mas, ficou. Acho que eu estava passando o carro à frente dos bois, inventando coisas sem falar pra ele. Ele reclamou para o Tomás Correia: “E o Confúcio Tomás, com aquela cara de crucifixo em casa de puta”. Puxa vida, me chamou de sonso. Eu não dei bolas pra ele. E toquei a vida. 

 

Olha gente, o Jerônimo, pra mim foi o melhor Governador de Rondônia de todos os tempos. Ele pensou Rondônia, sonhou Rondônia, profetizou Rondônia. Querem ver? Ele amava os ribeirinhos, até hoje, maioria de tudo que tem nas beiras dos rios foi feito por ele. Ele dizia que às margens do Madeira são terras férteis, tão férteis como as terras do Rio Nilo no Egito. E é verdade. Colocou Walter Bártolo para cuidar dos ribeirinhos. Pra cima e pra baixo. Outro boêmio, namorador, gente boa, tocador de violão, cantor, apaixonante. 

 

Jerônimo criou o IEF (Instituto de Florestas de Rondônia), ITERON (Instituto de Terras de Rondônia) ENARO (Empresa de Navegação de Rondônia),  CMR (Companhia de Mineração de Rondônia), implantou o IPERON (Instituto de Previdência do Estado), CEPROD (Centro de Processamento de dados). Veja Ceprord, que até hoje nada mais foi feito. Ele pensou em tecnologia naquela época. Isto é o máximo. E tudo que ele fez foi destruído. Pela clientelismo, empreguismo, falta de responsabilidade. Falta de visão de futuro. Jerônimo criou uma Secretaria para cuidar de Porto Velho, que o Jerzy Badocha assumiu e desempenhou muito bem. E estruturou o Estado. Ele odiava o clientelismo, o troca-troca, a falta de transparência, a política rasteira. E no seu Governo construímos juntos o CEMETRON, hospitais de Mirante, Machadinho, Presidente Médici, Nova Brazilandia, Cerejeiras, Jaru,  Espigão do Oeste, Hospital de Ji-Paraná, Cacoal (SESP) e Alvorada. Muita coisa mesmo. Além dos CSD (centro de saúde diferenciado). Trouxemos médicos e enfermeiros. E não ficou lugar no Estado sem profissionais da saúde. Foi uma revolução na saúde do Estado. Implantamos o SUS, por aqui. O Fundação Hemeron. 

 

Jerônimo gostava de visitar mercados, comer no meio do povo, puxar conversa na rua. Gritar quando precisava gritar. E tinha uma superstição danada com o Palácio Getúlio Vargas, não entrou nele nenhuma vez. Preferiu ficar na SUDECO onde é a SESDEC hoje. Ele achava que ali daria azar. Porque no Palácio tiveram todos os governadores,coronéis,que ele tanto combateu. Segundo ele, o clima ali era pesado. 

 

Hoje, encerro a minha série sobre Jerônimo, a não ser que vocês me contem mais algumas de suas tiradas maravilhosas. Que gostaria muito de ouvir. Mas, nós, os dinossauros da política de Rondônia, fomos todos introduzidos nela por ele. Ele é o nosso padrinho político e mestre inspirador. Digo pra vocês: amo o Jerônimo. 

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