Executivo em chamas

Executivo em chamas

Perdido em devaneios, tirei do dia de hoje um pedaço do que seria o eterno. E, nem sei como, meti o Presidente no meio, descascando um grande abacaxi.

Daí, me deu uma vontade louca de puxar a filosofia dos poetas para interpretar sua face, seus olhos, suas palavras, o seu desejo, o seu prazer, de (de, de) a cada semana ser mais intenso (esse “prazer” de caçar alvoroços e atirar pedras na casa dos maribondos).

Só pode ser um êxtase, que a toda força, ultrapassa os limites, espalhando o terror nas almas sofridas, tontas, amedrontadas com a pandemia do coronavírus.

Ah, como seria grandioso se ele se propusesse a ler os poemas de Manoel de Barros, e pudesse dar sentido e valor às insignificâncias… que pudesse trocar garças por peixes e ser elogiado de “imbecil” para, então, poder dizer: “eu sou fraco para elogios”… e quem sabe, chorar!

Pobre República desfederativa (deste país imaginário a que me refiro)…

Nem sei o porquê, mas me deu vontade, também, de falar de ferrovias (prometo, que não o farei). Também não falarei dos buracos nas estradas nem da falta de leitos nas UTIs… não! Não falarei.

E volto a mim, porque, sem perceber, saí de mim para imaginar uma boiada, atravessando o Brasil Central: o boi da guia, o tocador de berrante, as guias de frente, porque até os animais precisam de liderança, como o voo dos pássaros (que imitam a esquadrilha da fumaça).

Eu fico imaginando o líder: forte, nesta travessia tão complicada, batendo o cajado na água… e a água para! Subitamente para! E o povo passa… Vai andando até chegar à terra da promessa.

Encerro aqui, pedindo ao universo que não deixe o Nero voltar. Porque estamos necessitando é de Mandela!


Manoel de Barros
Tratado geral das grandezas do ínfimo (Manoel de Barros)
A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogio.
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