Me deu saudade (domingueira)

Me deu saudade (domingueira)

1. Me deu saudade de andar livremente nas ruas, como sempre gostei, mas agora, confinado, isolado em casa, só libero o pensamento que vagueia pela 25 de Março em São Paulo;
2. Não sinto saudade… por falar em 25 de Março, com gente indo e vindo, como um carreiro de formiga, lá muito tempo atrás, ainda com aquela cabeça oca de novidades, bugigangas, enfeites natalinos, Alice andava à frente, de loja em loja, comprando e me entregando pacotes. Eu, carregado, parecia um caixeiro viajante;
3. Não vou sentir saudades desta bendita quarentena. Já acho esquisito falar quarentena, sem ser quarenta. Pode ser trinta, pode ser vinte, pode ser, até mesmo, cinquenta. É uma provação;
4. Me deu saudade, agora, pegando algumas cartas, quando ainda se escreviam cartas, uma delas de 22 de maio de 1976: Alice em Goiânia e eu sozinho, na Vila de Ariquemes, dizendo que precisava vender uns terrenos, escrituras caras e que estava tratando os dentes, que para felicidade, só tinham dois estragados;
5. Saudade… Izabel Teixeira (a poeta de Cacoal) me mandou um zap. Agora, resolveu filosofar sobre a sabedoria das lontras. Ela meteu lontra no momento do “corona”. Lontra, corona e neo-iluminismo;
6. Nem sim e nem não (futuro da saudade ou futuro do pretérito) – A lontra só come os peixes dela numa fase da lua. E só pega tambaqui dando bobeira na superfície. Ela quer que destrinche o mistério da natureza das lontras e do tempo certo;
7. Chega! Sem saudades – Izabel disse: – E que a lontra deve ensinar a humanidade a recomeçar. Ela tem senso de oportunidade, do essencial, e que o vírus pode nos ensinar a ressignificar o que é importante;
8. Muita saudade da Margarida, esposa do Vicente Moura, que faleceu dia 10 passado. Família de amigos verdadeiros, sempre. Agora, ela cresce, passa a ser universo inteiro e se agarra aos nossos corações;
9. Não precisa de saudade – recomendo a leitura dos poemas de Manoel de Barros, o pantaneiro, poeta das insignificâncias: “sobre o nada eu tenho profundidades”;
10. A ponte – precisamos construir uma ponte sobre o rio Corona. Do lado de cá havia um mundo. Aglomerado. Poluído. Desigual. Consumista. Danoso ao meio ambiente. Do outro lado, tudo para se fazer diferente. Só a calamidade, a destruição, pode unir o homem para a reconstrução ou fim civilizatório.

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