SENADOR CONFÚCIO MOURA (MDB/RO)
47ª Sessão Deliberativa Ordinária da 1ª Sessão Legislativa Ordinária da 56ª Legislatura
Plenário do Senado Federal
10/04/2019
O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB – RO. Para discursar.) – Sra. Presidente, Srs. Parlamentares, Srs. Senadores, eu gostaria, primeiro, de registrar a presença no nosso Plenário dos Vereadores Claudinei Castelinho e Pedro Rabelo, da cidade de Cacoal, lindíssima cidade rondoniense, e do Deputado Federal, querido amigo, Léo Moraes, também presente, nosso companheiro do Estado de Rondônia.
Saúdo as galerias, os visitantes, vocês que estão aí nos visitando. Daqui a pouco, o Plenário estará cheio. Agora é a fase deliberativa e, já, já, a gente começa a Ordem do Dia com todos os Senadores presentes. Agora, este momento é só uma fase de aquecimento, de preenchimento do espaço. Os senhores sejam bem-vindos ao Senado Federal.
Hoje eu uso a palavra para saudar, homenagear e abraçar o povo da cidade rondoniense de Guajará-Mirim. Guajará-Mirim é uma cidade que fica na divisa da Bolívia. Do lado de cá é Guajará-Mirim, do outro lado do Rio Madeira é a cidade de Guayaramerín, na Bolívia. Só o rio separa o Brasil da Bolívia. Guajará-Mirim hoje completa 90 anos de emancipação. Para vocês observarem, nesse período, nessa fase de 90 anos atrás, Rondônia só tinha duas cidades, que são as cidades de Porto Velho e Guajará-Mirim. Guajará-Mirim completa hoje 90 anos. Eu saúdo todo o povo daquela cidade maravilhosa da fronteira brasileira. Rondônia é mais nova do que a cidade: o Estado de Rondônia tem 37 anos, foi emancipado no dia 4 de janeiro de 1982; e Guajará tem 90 anos.
Eu chamo a cidade de Guajará-Mirim de uma cidade inteligente. Eu chamo Guajará-Mirim de uma cidade singular. É a cidade inteligente, é a cidade singular, porque a cidade tem mais de 95% de florestas virgens. A cidade de Guajará-Mirim tem os rios mais puros, a água mais limpa do nosso País. É uma cidade que tem a maior comunidade de índios do Estado de Rondônia, muitas etnias.
Ao longo das margens do Rio Madeira e de outros rios, rios tortuosos, como o Rio Pacaás Novos, no Estado de Rondônia, vivem os índios, no mato. Eles descem de canoa longas distâncias, longos dias, remando, muitas vezes para socorrer um doente, para levar farinha, para levar alguns mantimentos, para comprar coisas essenciais. Então, são longas distâncias.
Quem vive em Brasília, Goiânia, São Paulo, não tem ideia nenhuma do que seja a vida ribeirinha, a vida no Brasil profundo, no Brasil distante, no Brasil que muita gente não conhece – muita gente não tem ideia das coisas, de como funciona por lá.
Ao mesmo tempo, a cidade de Guajará-Mirim, por fazer tudo o que há de mais nobre, que é preservar rios, preservar aves… Sabia, Senadora Zenaide, que em Guajará-Mirim há dez espécies de aves que só existem lá, no mundo? São dez espécies de aves exóticas que só existem por lá, no mundo inteiro. É tão fantástico isso!
Eu a chamo de cidade inteligente, uma cidade singular, porque ela preserva, guarda o seu tesouro verde, o seu ambiente preservado, o rio íntegro. Como devem sofrer os moradores às margens do Rio São Francisco, com o rio morrendo, o rio secando, o rio não movimentando as embarcações tradicionais! Os moradores das cidades ribeirinhas, no entorno, na margem do Rio São Francisco, ficam rezando, apelando para que aquele rio não seque! E lá, em Guajará, o rio é abundante – agora mesmo, ele está até cheio demais. Então, é assim.
Por outro lado, há um contraponto inimaginável: é uma cidade pobre. Os ribeirinhos são pobres, são desassistidos. A senhora, que é médica…
Lá temos distritos que ficam na foz de dois rios, um que vem da Bolívia, que é o Rio Mamoré, e outro que é o Rio Guaporé. Eles se juntam. Nessa junção, nesse delta, nessa foz, há um distritozinho de povos ribeirinhos chamado Surpresa. Ele se chama Surpresa, porque é uma surpresa! Ele está ali naquele encanto, com o surpreendente ambiente de dois rios que se juntam, rios de nacionalidades diferentes que descem ali pelo Distrito de Surpresa. Demoram muitas horas de barco para chegar à primeira cidade, que é a cidade de Guajará-Mirim.
A gente fica pensando assim: vale a pena preservar? Vale a pena manter a floresta em pé e ser pobre? Olhe essa reflexão, Senador Campos – quase falei Júlio, mas Júlio é o irmão, não é? Vale a pena preservar, ficando tão bonito, tão fechado, tão natural, e viver na pobreza? O que se ganha? Desmatar, plantar soja, criar gado, fazer tudo isso enriquece as pessoas; preservar é a pobreza. Então, não combina o meio ambiente preservado com a pobreza. Alguma coisa nessa matemática da distribuição da renda, alguma coisa nessas equações da distribuição da renda deve ser revista, porque essas comunidades pobres, ribeirinhas, indígenas, necessitadas, que preservam rios, florestas, animais…
Agora mesmo, hoje, um Vereador dessa marcha me mostrou a quantidade de cobras cascavéis invadindo casas no Distrito de Surpresa, cobras grandes entrando nas casas. Lá na comunidade, não há, Senadora, nem soro antiofídico! Havia dois médicos cubanos, e os brasileiros não foram para lá, e agora não há ninguém. E as cobras lá são grandes. Eu vi as fotos hoje dessas cobras. Então, é a pobreza, a falta de assistência e a preservação, com até mesmo cobras sobrando dentro das casas nas comunidades. Por aí, a senhora observa o quão desigual é este mundo brasileiro.
A senhora sabe que eu fiz homenagem a Guajará-Mirim aqui agora pelos seus 90 anos…
E eu mandei esses dias para cada gabinete aqui uma ideia minha de que cada Senador pudesse adotar uma escola – chamei isso de Senado Educador. Vamos imaginar a senhora, Senadora Zenaide, lá na sua cidade natal. Eu sei que a senhora tem obrigação com todas as escolas, com todo mundo, a senhora tem o coração grande, eu vejo seus discursos aqui tão veementes, tão bonitos. Há muitas escolas, mas a senhora vai lá e escolhe uma na periferia mais pobre. E, a cada viagem, a cada três meses, a senhora vai lá, entra na escola, bate um papo…
(Soa a campainha.)
O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB – RO) – … com os professores, vai lá na cozinha, abraça a cozinheira, a zeladora, a merendeira, dá uma volta, abraça os meninos, conversa com a diretora e vai embora. Daí, três ou quatro meses depois, a senhora volta e faz a mesma coisa. Daí, depois de mais três ou quatro meses, a senhora faz a mesma coisa. Só a visita! A senhora veja bem: “A Senadora Zenaide visitando a minha escola”. Não precisa levar nada, não. É só a senhora. Aí a senhora vai, bate um papo, conversa com elas e a senhora vai ver como as coisas vão melhorar.
De outro lado, Senadora Zenaide, tudo tem o tempo certo. A senhora viu que aqui, na última semana, nós votamos duas PECs em 24 horas. Eram propostas de 2015 que estavam na gaveta, mas de repente a Câmara dos Deputados e o Senado resolveram tirar da gaveta e votar, em 24 horas, as duas propostas de emenda à Constituição.
(Soa a campainha.)
O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB – RO) – Por aí a senhora observa: quando o Congresso quer, a coisa acontece, quando o Congresso deseja soltar uma matéria que estava adormecida, a coisa acontece.
Então, por aí a gente pode observar que o Congresso pode muito quando quer. Quando a Câmara quer, quando o Senado quer, a gente vota uma emenda à Constituição em 24 horas. Põe um relator de Plenário, põe não sei o quê, não há mais interstício entre as votações e vota. Mas tem que querer, tem que haver aquela vontade. Ou é birra, ou é necessidade, ou é um xeque mate, mas acontece.
Então, por que não se faz o mesmo com a educação? Por que a gente não pega assim… Por que a educação brasileira tem que ser a pior do mundo? Será que tem que ter aqui mil Deputados, mil vozes…
(Interrupção do som.)
(Soa a campainha.)
O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB – RO) – Ficaram oito, 16 anos, discursando, falando em educação, educação, educação, educação, todo dia, e não chegou a hora ainda, a vontade do Congresso Nacional, mesmo no presidencialismo…
Mas agora, nesses dias, estou vendo que o Congresso é parlamentarista. O Congresso, nesses últimos 15 dias, transformou-se em um Congresso parlamentarista, tomando decisões fortes, necessárias, acima da vontade do Presidente. O Congresso votando.
Agora, será que ele não pode fazer essa rebelião, essa insurgência, esse parlamentarismo demonstrado nesses últimos 15 dias na área da educação? E não adianta trocar ministro. O Ministro tem que vir aqui e dizer: “Meu filho, eu quero ensinar o menino brasileiro, eu quero que o menino…
(Interrupção do som.)
(Soa a campainha.)
O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB – RO) – Chega de ignorância neste País! Chega de não se preocupar com o capital humano, com as crianças! A palavra é “salvar”, a palavra é essa, “salvar” as crianças brasileiras do tráfico de drogas, do crime organizado, da malandragem da rua. Isso é muito sério! A gente vota aqui tanta coisa que não vale nada, coisa que não tem nenhuma repercussão positiva e deixamos crianças sem aprender, sem realmente aprender a ler, a fazer uma conta simples, de matemática mínima.
Se se pega uma maçã e se passa uma faca no meio, como se chama aquilo? É um meio, é a metade, é um terço, é um quarto? Que negócio é esse? Não entende.
Então, Sra. Presidente, eu encerro minhas palavras por aqui, agradecendo a tolerância.
Muito obrigado.
A SRA. PRESIDENTE (Zenaide Maia. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PROS – RN) – Parabéns, Senador Confúcio.
Eu acho que todo mundo ficou com vontade de conhecer Guajará-Mirim…
(Soa a campainha.)
O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB – RO) – Sim, Guajará-Mirim.
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