PALMAS – Casas, lagos e cerrado

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PALMAS – Casas, lagos e cerrado

Goiás antigo, dividido, sertão, hoje o belo Tocantins. Dividir para somar, para multiplicar, foi o que aconteceu, o sertão quase virou mar. Eu nasci em Dianópolis, que se chamou São José do Duro, um belo nome, Duro, porque era dura a vida, de rachar, de jegue, de feixe de lenha, de lata d’água na cabeça, de pilão, de biscoito “amor perfeito”, de escola boa e um futuro incerto de sumir de vista.

E agora, bem tardio, desci no aeroporto de Palmas.  Como o filho pródigo que retorna. Fui na direção do centro e olhando para os lados e para longe e vi que a cidade põe seu limite no meu olhar, que se esbarra na serra,  que não está longe. Quem sabe, do outro lado protege o santuário ecológico do Jalapão. E do lado de cá, o Rio Tocantins, agora Lago do Lajeado e Palmas fica ali, no entremeio entre o lago e a serra. Bem colocada, parece que a dedo, no meio do cerrado nativo e extraordinário.  O palmense nativo ainda é menino, porque a cidade floresce juventude.

Eu fui escorregando nela, como um glóbulo na veia, suas vias largas parecem mundo inteiro de pontos cardeais, Norte Sul e Leste Oeste. Um toque do pensamento grego,  em valorizar o poder, tudo circula em torno dele, em monumentos organizados no meio de simbólicos pequizeiros, jatobás, angicais, mangabeiras, macabais e cajueiros. Não sei lhes dizer se o cerrado virou cidade ou se a cidade virou cerrado, certo é, que os dois se entenderam muito bem. Fiquei com saudade do embiraçu, do puçá e da canela d’ema, fisionomia do ambiente que fui criado.  Fiquei com saudade do cheiro da vereda, de comer buriti com rapadura e mão cheia de farinha de mandioca, que o vaqueiro levava no alforje. Tem muito cheiro exótico por aqui, que só o tocantinense sabe apreciar. Palmas tem tudo isto, manga espada e coco macaúba e araçá. Tenho ainda o araçá no meu coração. Acho que tenho o cheiro do murici  do campo.

À noite fui visitar minha querida prima Amelinha, comi o que não comia há anos, o rubacão e mandioca bem cozida. Foi muito bom ver primos segundos e terceiros e estar com ela, noutra fase da sua vida, com os mesmos traços de sempre e sua beleza que se confunde com a cidade de Palmas. E a todos amigos e parentes, que infelizmente não pude ver, deixe pra outro dia, que o abraço estará guardado dentro de mim, para transbordar efusivamente.  Entrou no Whatsapp outra prima de Porto Nacional, a Edvan Moura, esta sim, de Ponte Alta que  tem nela o brilho sereno dos gerais.

Waldredo Antunes, arquiteto e urbanista e mais companheiros, puxaram do capim dourado a inspiração para planejar a cidade . E foram fundo neste argumento, desatando segredos para  colocar o ouro na cidade. Num verdadeiro milagre da transformação, esticando e polindo a fibra do capim e fazer a cidade sair dos seus toques no papel. Aqui não é Dubai com seu excesso de riqueza, aqui o foco foi outro – a natureza como base para a cidade se assentar. E tudo que era sereno e plácido virou encanto de uma hora para outra, e Palmas ficou ali, espremida entre o Norte, Nordeste e o Centro Oeste, mas, nem liga pra isto, por que é muito maior, um pedaço do mundo, o Brasil que deu certo, a cidade que você pode jogar o seu pensamento pra qualquer lado e encontrar pouso e paz.

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