O salto no escuro (uma história da pandemia COVID-19) Capítulo 27

O salto no escuro (uma história da pandemia COVID-19) Capítulo 27

A vida continua medrosa. Vamos puxando os mortos. Como se tudo fosse uma guerra. Onde não se tem tempo a perder com o morto em combate. Fica ali mesmo, exposto, como uma imensa Batalha de Borodino.

Quando menos se espera, o presidente Trump adoece.

Há quem diga que o neoliberalismo está com os dias contados. Ele que surgiu depois de Segunda Guerra Mundial está, agora, em estertores. Uma nova ordem econômica surgirá. Um entremeio, ainda sem nome, que fique na linha média entre o comunismo e o capitalismo balançando entre os muito ricos e a grande massa de pobres. E uma mangueira ligando os extremos, drenando da caixa d’água o precioso líquido, de quem tem muito, para os que nada têm.

Ninguém sabe o nome que terá. Eu fiquei procurando um nome para este novo marco civilizatório; não me veio luz nem pensamento. Finco o pé que pode se aproximar do modelo chinês. Que colocou tudo dentro do balaio. E vai tocando assim mesmo.

O mundo agora está refugiado, como nos campos de peregrinos sem rumo. O nosso refúgio é a solidão de ficar dentro de casa. Neste ano de COVID-19 aumentou ainda mais a concentração de renda. Virou um abismo humano.

O Brasil, por enquanto, não tem cenários de futuro. O ministro disse que está na hora de deixar a boiada passar. Desregulamentar a política ambiental para criar outro país de terra arrasada. Cada cabeça com sua sentença. Os loucos acham que estão sempre certo. Hitler nunca imaginou que estivesse errado.

Hoje, seis (6) de outubro, quente na rua, quente dentro de casa. Pobres e miseráveis estão mais condenados a ficarem ainda piores. As campanhas eleitorais estão nas ruas. Candidatos alegres e otimistas, também pudera, pelo menos o otimismo de prometer o que é tão incerto.

A nossa comissão que cuida da calamidade da COVID ouve vozes experientes. Mapas e números. Gráficos que apontam e desapontam. E lá na frente, as linhas se abrem abruptamente, como se a nossa economia fosse uma boca de jacaré bem aberta. Receitas e despesas não se entendem e tudo em 2020 é imprevisível.  Enquanto isso, ligo a TV e vou ao Youtube pegar uma série de exercícios com Sidney Cummings, que francamente, quase me arrebento todo. Melhor ela do que a COVID-19.

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