Menino de interior, de tempos idos, como os de hoje, quase iguais. O que os diferenciava era a forma de agir. Parece até que menino tem necessidade de fazer “malfeitos” ingênuos, em série, como as perversidades, às claras ou não, só para se deliciarem das consequências. No geral agem em bando. Os pestinhas. Na década de 60, no sertão profundo, não havia TV, nem automóvel na cidade, nem fogão a gás, nem sonho de telefones e nem geladeira. Era a rua o nosso espaço de vida.
Como toda cidade do interior que se preze, tem a mesma urbanização. As ruas convergem para a praça. E na praça da matriz é que tudo acontece. Por lá, por onde vivi parte da infância e adolescência, na praça da matriz, a praça era de todos. Homens e bichos. Pastavam, naturalmente, jegues, cavalos de serviço, porcos, galinhas, vacas extraviadas dos pastos. E o povo no entremeio, puxando água de uma caixa redonda, de concreto, com seis torneiras dispostas. A cidade inteira servia daquela água. Rodinha à cabeça, lata cheia, pote, moringa, cabaça. E faceiros desfilavam nas ruas, num incrível equilíbrio, mãos soltas e abanando, sorrindo, conversando e o pote d’água no exato ponto de equilíbrio. E o era o ponto do converseiro e das fofocas.
O carro de boi descia a rua carregado de lenha ou pedra. Chiava o eixo untado de azeite e carvão. Por ali todo munda sabia o que era canga, boi da guia, ferrão com argola, canzil, cabeçalho, cambão, candieiro e o encanto do aboio do carreiro, que se entendia com as juntas de boi, no seu idioma próprio. Coisa de homem e o boi.
Havia uma malva praguejada na praça. Difícil controle. Uma vegetação de pequeno porte, bem flexível, que era natural por ali. Ninguém nem se incomodava com ela. Os caminhos no meio da praça, entre malva, trieiro, socado de tantas pessoas andarem, um atrás da outra. As criações comiam aqui e ali pontas de grama e socavam a malva com as patas. As pessoas roçavam, mas, ela insistente e teimosa brotava de novo. E tudo sempre ficava do mesmo
Os meninos vadios, como sempre soltos, como os bichos, mal o sol se escondia, começava a amarrar um pé de malva no outro, em espaços curtos, só para ver os mais velhos tropeçarem e caírem. Havia até campeonato entre nós, quem mais derrubaria gente numa noite, ainda mais acirrada a disputa, nos dias de missa. Porque de cada casa saía muita gente para rezar. Cada queda era uma comemoração. E ainda mais quando a vítima começava a xingar ao léu, a procura dos “capetinhas” sempre escondidos atrás do coreto ou da pedra da praça.
Quando hoje, vejo pais brigando com filhos, por celulares, ficarem no sofá muito tempo, jogos eletrônicos, games ou de quando em vez aprontando “algumas” na vizinhança, eu fico pensando, como era diferente, nos meus tempos idos, em que as brincadeiras eram bem mais perigosas e arriscadas. O meu conselho: deixem os meninos brincarem e correrem riscos, para amadurecem bem cedo e se tornarem homens mais preparados.
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