Tomei um susto. Ali por perto do novo necrotério. Fiquei olhando para a obra, que é linda, contrasta cores, o vermelho se exalta. Longe a neblina sobre o Rio Branco. E a cidade beiçando o rio.
Dei uma parada, para fitar o nada, encostei por ali, bem cedo, ainda sol escondido. E ouvi umas pancadas secas de martelo no aço. Não vi nada. Só ouvi. Marteladas. O necrotério ainda não foi inaugurado. E as marteladas. Nem guarda havia na obra.
Ninguém na rua. “Arrupiei” todo. Olhei pra frente e pra trás. O coração acelerado. As pancadas secas no ferro. O necrotério só ano que vem. Oxente! Que negócio é este? Visagem?
Nunca ouvi falar de visagem por aqui.
Será alma penada pedindo socorro ou oração? Eu fiquei, confesso, com toda macheza, de meio cabra-da-peste, aguardando uma reação das pernas, para tomar um destino. Fui encostando na cerca, beira de um buraco, tipo “boca de lobo”, olhei pra baixo, vi um camarada trabalhando, fazendo “cerão” na madrugada.
Ele concentrado não me viu. Eu dei o comando: – e aí cara? Quer me matar de susto? – Era o Salatiel, rapaz novo, cheio de responsa, puxando hora para ganhar mais uns trocos, para a sua festa de Natal, quem sabe um peru assado.