Hoje, em dia, qualquer menino danado, conversador, inquieto é rotulado na escola de TDA (Transtorno de Déficit de Atenção). Gritou é TDA. Correu demais é TDA. Xingou é TDA. Puxou os cabelos do colega é TDA. Caramba!
Que vá bem na escola ou que não vá lá tão bem quanto se esperava – TDA. Tirou nota baixa: TDA. Mas, é menino ativo, corredor, jogador de bola, incapaz de ficar uma hora sentado, quietinho, numa sala, mesmo assim, é TDA.
A diretora, a professora, manda chamar os pais. E desata um rosário de penas e críticas. Termina que a mãe sai chorando. Seu pobre menino querido é portador de doença rara: TDA. E o menino termina levando uns castigos. Que não adianta nada. E vai e vai. Não demora, está no consultório do psicólogo, levando pra cima dele mil teorias de centenas de autores, mundo afora.
E ainda é pouco. Chega ao psiquiatra. O menino ativo, inquieto, sem paciência, agora, é carimbado de portador de uma doença, muito em moda: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO. E os pais agora, mais tranquilos, porque o menino é doente.Vão ser mais tolerantes com o pentelhozinho.
E já vem, os pobres pais, com uma receita tarja preta – com a prescrição da RITALINA. Como se a ritalina fosse a solução pra tudo. E a ritalina virou sanduíche, virou bola de gude, virou salvação mundial, ritalina virou Whatsap para todos os meninos, que não aguentam ficar mansamente quietas, covardemente quietos, numa sala de aula do século XIX.
Ritalina neles.
E com o tempo, o menino vai crescendo, ficando bom em tudo, naturalmente, deixa de tomar ritalina, porque não estava adiantando nada, e aquilo tudo, não valeu de nada, o menino é o mesmo, adora computadores, sabe tudo de celulares, dá show em muita coisa moderna. Mesmo assim, engoliu milhares de comprimidos de ritalina.
Eu fui médico muitos anos, nunca prescrevi ritalina pra ninguém. No meu tempo tinha finalidade específica, mas, como médico à moda antiga, preferia recomendar aos pais outros procedimentos e ter muita paciência, porque o tempo se encarregaria de por o menino no seu devido lugar.
A não ser casos raríssimos e comprovadamente neurológicos ou distúrbios de personalidades, que se comprovaria a necessidade de algum medicamento. Eu nunca gostei de modismo. E esta síndrome de déficit de atenção eu nunca engoli.