CALAMA

CALAMA

Fui à Calama, foz dos rios Madeira e Machado, por terra e por água, mas, o suficiente, para mesmo num domingo, conversar com as pessoas. E por lá percebi o quanto seus moradores se orgulham do lugar. Talvez, por tudo, pelos rios, pelos ventos, pela proximidade das casas. Pelo conhecimento de uns com os outros, por ir ficando ali, envelhecendo, sem perceber o tempo, até mesmo, parecendo que ninguém liga para o tempo. Ele passa, mas, ninguém liga para a sua passagem, porque a força do ambiente  é de paz, de um silêncio gostoso, das conversas ditas, como de costume, pela fartura de peixe, de farinha, e os rios que, desobedientes, não seguem nenhum movimento da Terra, nem se percebe o nascer e o pôr do sol, porque os dois – o nascimento e o poente, é a própria paisagem de todos os dias.

Fui rever os amigos, abraçar muitos deles. Ver os meninos beliscando o celular ali perto da Emater. A internet rodeia o prédio. Vieram os bancos rústicos de madeira e às tardes eles se enchem do mundo virtual, e Calama deixa de ser Calama por alguns instantes, para ser mundo inteiro.

Vi a minha obra, que não foi grande e nem pequena, foi do tamanho exato da comunidade, a ponte de ferro restaurada, os pontos de Internet via satélite, o posto da Caixa Econômica, que Adalberto me pediu para que os aposentados recebessem ali mesmo.  Vi a escola com a quadra, e toda reformada. Por falar em Adalberto, cadê o Adalberto? Queria abraçá-lo. Só pode estar no rio pescando. Então, quem o encontrar primeiro, não esqueça de dizer pra ele que estou com saudade. E ali, na casa da Priscila, mesa enorme, sentaram-se várias lideranças locais e só falei para eles que não poderia nesta campanha, deixar de ir visita-los, e eleito Senador que pudessem contar comigo sempre.

Andei pelas passarelas de madeira, por onde todos andam, enfileirados. Vi o barranco que o rio  vai comendo ano a ano, solapando e comendo ruas e casas. Até mesmo a igreja já está ameaçada, que é o sentimento mais profundo de todos, o de se fazer a sua contenção, porque o barranco descarna Calama e Calama não gosta disto.

A ladeira íngreme da embarcação ao plano do Distrito, degraus de madeira, exigem força na coxa e perna, para chegar lá em cima. O Baixo Madeira que lhe devoto tanto, Nazaré inesquecível, que a visitei tanto, São Carlos que breve terá uma rodovia pavimentada até a “boca” do Jamari com o Madeira, e por aí vai, o meu apego pelos ribeirinhos resistentes, tolerantes, amorosos, agarrados às suas tradições, que amam a vida, a beira do Rio Madeira, de terras férteis, como dizia Jerônimo Santana – é o Nilo brasileiro.