Almas boas

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Almas boas

Porto Velho amanhece e desenha no céu um espetáculo de cores. E o sol bem forte, acordado recente, clareia a cidade e o rio. E as luzes dos postes se apagam. O sol sozinho acende a vida, com intenso vigor.

E o sol é para todos. Viventes humanos, bichos, insetos e plantas. O sol é para todos. Todo mundo, de manhã cedo, ganha um pedacinho do sol. E este pedacinho de sol, é um pedacinho de ouro, diamante, tudo que é demais precioso. E a planta começa a trabalhar, como gente, logo de manhã cedo.

Agora, como de vez em quando sou acometido, pela doença da curiosidade e fico querendo entender dos mistérios das plantas, dos seus segredos íntimos delas. E assim, como existe a alma no homem, eu me bato para não entender, porque não há a alma também para as plantas. Como eu gostaria que as plantas também tivessem almas. Até mesmo, poderia ser, uma alma diferente, alma de planta, verde,  num sentido tal qual é a alma verdadeira.

E ir bem mais além do que imagino, e que talvez, não haja uma equação na matemática, para me calcular, bem óbvio, a mudez absoluta das árvores. Porque aqui, dentro de mim, também, como a alma, imagino que as plantas tenha a sua própria linguagem. E conversam entre elas um vocabulário imperceptível da própria natureza das coisas.

Assim, como sol acorda cedo, quase todas as manhãs, os homens se mexem dentro de casa e saem para a rua, cada um para um canto, de encontro com suas ocupações. As plantas também fazem a mesma coisa. Elas têm ocupações. E suas ocupações são rotineiras como as ocupações dos homens. E começam a mexer nas vidrarias dos seus laboratórios secretos, a pipetar a água, de onde tiver, a catar o sol como se cata um fósforo para acender o fogão, e, com veemência tanta, com a magia das suas palavras não ditas, as plantas aspiram as sujeiras deixadas no céu, pelo próprio homem.

E tal qual o lixo da cidade, dá sentido a tudo, dá utilidade aos restos e sem nenhum rancor, devolve à natureza o seu produto final, para manter a vida de todos viventes da Terra. O carbono se transforma em madeira, fruto, folha, raiz e alma boa, como, por certo tem e  entrega a cada um, dose de amor, o oxigênio.

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