A saudade dói na gente

A saudade dói na gente

Eu tinha loucura para fazer dezoito anos. Queria me libertar da disciplina de mãe e pai. Não ter hora para chegar em casa e entrar em lugares para maiores de idade. Ficava torcendo para o tempo correr ligeiro, para sair da meninice.

Quando menino, sem código de postura para menor e adolescente, malfeito qualquer, grito ou xingamento, não havia perdão, caía na taca mesmo. Mãe tinha aquela mania de beliscão, puxão de orelha, chinelada, castigo. E a gente se pelava de medo de surra de pai. Bastava um rabo de olho, para se criar jeito.

Como o mais velho da família paguei todos pecados do mundo, pela irmandade mais nova, porque havia como costume, que o mais velho tinha que dar bons exemplos.

Quer ver coisa feia era o dia de tomar remédio para vermes. A gente travava os dentes, minha mãe puxava orelha, ameaçava e não havia jeito. Ela desistia. No outro dia, todos íamos dormir na casa da vovó Joaquina. Com ela não havia trava de dentes. Ela metia o chicote, sem pena e nem dó. Fechava as nossas narinas com os dedos, chorando, a boca abria e ela jogava as pílulas do “lombrigueiro”. Só nos restava engolir. Isto tudo na madrugada.

Cedinho, ainda em jejum, outro martírio. Uma colherada de azeite de mamona, que era o laxante, de péssimo gosto. Mesmo método, engolia-se tudo. E a fraqueza vinha, a barriga roncava. Comida, só depois de fazer efeito. E era um caldo de misericórdia. O mais importante é que  tenho saudades, até dos tempos ruins. Porque a infância é bela.