Sou um camarada modelo Mário de Andrade e Ariano Suassuna. Pouco conheço do exterior. Meio bicho do mato, encafifado nas coisas do Brasil. Tão grande e belo, que opto por férias por aqui mesmo. Até mesmo andar pelo mato. Mas, quem tem família de duas gerações abaixo, termina arrastado a viajar para outros países. Vou. Gosto. Não me vejo ali.
Estou em Roma. É como se diz às avessas – “Fui a Roma e não vi o papa”. Vi o símbolo, o que valeu mais que a pessoa, o Vaticano. Chovia fino. Nada abalava a enorme fila, da praça, ao redor dos paredões externos, até a entrada principal. Comprei ingresso pela Internet, enorme diferença, ganhei tempo. Passei pelo detector de metais. Altivos seguranças.
Esperei chegar as nove horas, para formar o grupo de quinze pessoas. Uma freira foi a guia. Sabia tudo de artes. Da história de cada artista, de papas, de santos, estátuas, brasões. Ainda chovia, as gotas batiam nos vitrais imensos, escorriam escrevendo estradas verticais, até desaparecerem. Fiquei olhando tudo. Multidão, fração, o mundo inteiro.
Vaticano é uma fortaleza, como outras tantas existentes, das Idades Antiga e Média. Já tem coisas mais modernas, decoração do pórtico, anúncios luminosos, idiomas variados, a nossa guia narrava em inglês. Fone de ouvido, ela falava e a gente ouvia, e eu nada entendia. Me desinteressei pela apresentação dela, retirei o fone de ouvido e passei à contemplação do ambiente. O meu olhar leigo, sem a narrativa histórica.
A procissão era lenta. E o sacrifício incomum. Vaticano, obra memorável para católicos ou não. Ele guarda uma mística interessante. Um palácio encantado das ficções.
Uma Torre de Babel de idiomas. Tudo bem organizado, orientado, sério. Havia uma ordem paciente nas pessoas. Confesso que estava agoniado, impaciente, por não entender nada que a freira diz. Uma longa viagem no tempo.
Fui andando, no ritmo do possível. Tive uma sensação de pânico. Muita gente. Um passo de cada vez, empurrando, sem pedir passagem. Vaticano é uma cidade chamada arte. Por tudo é arte. Do piso às paredes e tetos.
Leia o próximo capítulo.
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