É o quarto mais frio da casa. Fico no primeiro andar, contra os raios do sol. Fico olhando os trabalhadores de prédios em obras. Cerca de quarenta homens, incansáveis, chegam às 6 horas, um a um. Trocam suas roupas pelos uniformes padronizados. Com o instrumental de proteção, capacete, argolas no cinturão, pegam forma de astronautas. O prédio vai subindo.
Chegou agosto, hoje é o dia primeiro, inverno, quente, o cerrado arde. Umidade baixíssima. Olhos ardem. Lábios racham. A pandemia do coronavírus parece não ter fim.
Alice sempre me diz que a teoria da evolução de Charles Darwin está operando esta seleção de vidas e mortes. As guerras matam. As pandemias matam. Terão sobreviventes, que contarão as histórias. Os humanos terão novos anticorpos. As vacinas em pesquisas. As esperanças adiadas mês a mês.
Vou terminar aprendendo inglês de tantas palavras que invadem o nosso português. Lockdown. Lockdown. A rua deserta. Lojas fechadas. No isolamento social a cidade se esconde. Vêm os bichos no proveitoso silêncio.
A vida sendo um traste banal, 1.200 mortes por dia. Quase seis aviões caídos e passageiros mortos. Ninguém está mais incomodado com números. Estamos nos acostumando com a tragédia.
Ficar em casa, tolerante, no isolamento, sem bater e sem brigar. Quase tudo é home office, menos para entregadores de comida e os pobres, que precisam ganhar no dia para jantar à noite.
Cinema só na TV. Drive-in é mais uma opção em voga. Tossiu é corona. Se tiver febre, muito pior. Minhas mãos ressecadas de tanto álcool em gel. O sono está pouco. Hoje fiz macarrão no almoço, molho de cebola, alho, óleo, tomate, atum. Ficou bom.
Como está você meu amigo? Ninguém diz que está bem. Sempre tem um mais ou menos. Aguei meu pomar de rua. Andei com a cadelinha Mivi, que adora passear.
As escolas ainda estão fechadas. Um prejuízo enorme, como se tivéssemos enterrando o nosso próprio futuro.
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