O meu presente, minha mente (aniversário)

O meu presente, minha mente (aniversário)

Cada tempo com o presente que lhe cabe e convém a idade. Não me lembro de ter recebido presente na minha infância. Muito menos festinha de aniversário. Por isto, sou arredio a elas.

Quando neném, o presente pode ser tudo que apite, chocalhe ou grite. Com o avançar do tempo, surgem outras conveniências: as blusas, os sapatos, os relógios, os cintos e por derradeiro, os badulaques da tecnologia. Agora, com meus 72 anos (completei em 16 de maio passado) só me convém e aproveito aquilo que posso usufruir na hora, como um telefonema de um amigo verdadeiro ou parente.

Este ano, fiz diferente, resolvi me presentear. Sem pacote. Sem fita. Sem cartão. Seria correr dez (10) quilômetros. Um quase presente para justificar a vida. Porque viver é movimento. Em fevereiro, num treino de corrida senti uma fisgada na panturrilha direita (batata da perna), e no exato momento saí “mancando”, os efeitos ainda duraram trinta dias. Fui tentando atingir os dez quilômetros, não deu.

Falhei em mais uma meta. Então, a alternativa seria a caminhada forçada e, na madrugada do dia 16 de maio, saí de casa às 5 horas, peguei a inseparável máscara e fui permeando o espaço entre prédios do Noroeste (Brasília) e os hospitais de Apoio e da Criança. Atingi os espaços militares e pus o pé no Eixo Monumental. Fui seguindo por calçadas e gramados. No entremeio das árvores tortas do cerrado.

Cheguei à Igreja Matriz (em madeira) na Vila Planalto. Sentei ali numa pracinha muito bem cuidada, arborizada, com passarinhos, muitos bancos. Foi num sábado. Silêncio na rua. O povo enclausurado em casa. Fiquei olhando aquele lugar, como em estado de transe. Deixei o tempo escorrer na memória. A Vila Planalto foi um acampamento de uma das construtoras de Brasília. Chamava-se Rabelo.

Morei ali na Vila Planalto entre 1957 e 1960, numa casa de madeira construída para os candangos. Meu pai era um candango. Ainda não existia o Lago Paranoá. Puxei as pontas deste vergalhão comprido e fiz a ferradura, as pontas do meu tempo e sentei. Fiquei ali sozinho sentindo todos os efeitos que a lembrança produz.

Olhei para o relógio (Garmin), havia andado quinze quilômetros. Este foi o presente mais espetacular. Agora, quero embalá-lo com papel especial e passar a fita amarela e me entregar. E prometo continuar em movimento. Peguei um Uber de volta pra casa, pois ainda sou de carne e osso.

 

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