SENADOR CONFÚCIO MOURA (MDB/RO)
11ª Sessão Não Deliberativa da 2ª Sessão Legislativa Ordinária da 56ª Legislatura
Plenário do Senado Federal
20/02/2020
O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB – RO. Para discursar.) – Sr. Presidente, Srs. Senadores, Deputados, Senadoras, também servidores do Senado, hoje é um dia mais calmo, a maioria do pessoal está viajando.
Eu quero aqui cumprimentar a Senadora Kátia Abreu, que, anteontem, à tardezinha, fez um discurso. Ela disse que subiu aqui na tribuna para falar sobre a agricultura familiar, mas, quando ela subiu os degrauzinhos aqui, deu um estalo na cabeça dela e ela resolveu falar sobre o preconceito contra a mulher. E a Kátia Abreu fez um discurso de improviso que eu acho que ela não consegue repetir, um discurso vibrante sobre o preconceito contra a mulher, sobre a humilhação contra as mulheres, sobre essa série de ofensas que, nos últimos dias, têm acontecido aí de autoridades contra jornalistas, contra outras mulheres e outros itens mais, como o feminicídio, contra as agressões, contra as palavras duras que machucam muito.
Mas a Kátia foi de uma felicidade no seu pronunciamento que eu acredito que as mulheres do Brasil deviam pegar no YouTube o discurso dela ou lê-lo e verem a beleza das palavras que ela falou. Assim, eu acho que o raciocínio dela foi fluindo com tanta naturalidade até parecendo, como ela é tocantinense, com aquelas águas bonitas do Jalapão rolando no cérebro dela, e ela falou um discurso fantástico em defesa das mulheres brasileiras. Eu quero saudá-la pelo discurso profundo e oportuno.
Outro ponto que eu gostaria de destacar é que foi ontem realmente essa ofensa, esse tiroteio, essa exposição do Cid Gomes no Ceará. Cid é um Senador muito querido nosso aqui, foi um Governador eleito e reeleito, extremamente competente, Prefeito de Sobral. Toda essa transformação educacional de Sobral começou com ele 25 anos atrás. É um homem genial. Logicamente ele tem o estilo dele. Ele é um camarada nordestino cabra da peste, não leva desaforo para casa, não tem meias palavras e vai mesmo na fumaça.
Naquela hora, eu acho que ele perdeu um pouco o seu controle e partiu para a briga, mas não era motivo de tiro. Aquilo ali podia tranquilamente qualquer pessoa ir lá, segurar o Cid e parar, mas atirar num Senador, atirar numa pessoa com o currículo dele no Ceará, pela folha de serviço que ele tem no Estado e no Brasil, não cabe, não justifica.
Por mais que os policiais em greve, em manifestação tenham as suas razões, por mais que tudo… Aquele trator não ia matar ninguém. Era só o pessoal se afastar ali, e não ia acontecer nada de mais com ninguém. Então, aquilo foi o extremo o extremo, desagradável, ofensivo ao regime democrático, às manifestações e a tudo. Então, eu desejo ao Cid Gomes que ele retorne, tão logo fique bem recuperado, para o nosso meio. Ele faz muita falta devido ao seu brilho, ao seu trabalho fantástico.
Quero agradecer também ao Diretor-Geral do Dnit, o Gen. Antônio Leite, que eu não conhecia. A primeira vez que eu fui lá foi anteontem. Eu achei um cidadão muito receptivo, de boa formação, agradável ao receber as pessoas – ele me recebeu muito bem na primeira vez –, franco, tranquilo, explica tudo certinho, demonstra interesse pelo que você fala. Logicamente, nós sabemos das limitações de orçamento, ainda mais na área rodoviária brasileira, mas ele não deixa de dar um alento, uma esperança, um interesse pelo que você expõe. Então, eu saí de lá com boa impressão dele. Eu tenho certeza de que todos os demais que já o conhecem há mais tempo devem ter do Gen. Antônio Leite a melhor reputação possível.
E aqui eu aproveito este tempo para também fazer alguns comentários sobre o que o Senador Izalci não se cansa de falar aqui, sobre a tecnologia e a educação. Quando fui Deputado, na década de 90, quando até internet não havia direito… Nós Deputados não tínhamos telefone celular. O Michel Temer, quando foi Presidente da Câmara, ofereceu um aparelho celular, aquele tijolão, para cada Deputado. Eu mesmo não quis receber. Eu passei quase um ano sem receber. Eu, mesmo médico, assim, não tinha conhecimento sobre celular. Eu tinha medo daquele troço, de aquele celular dar câncer no ouvido da gente. Olhe bem, eu, Deputado e médico, falei: é uma onda, uma onda aqui no seu ouvido. Sei lá se não interferem lá no cérebro essas ondas magnéticas, tal e tal. Eu deixei os outros falarem primeiro para acabar o meu medo. Lá na frente, terminei aceitando o celular, porque todo mundo estava usando esse negócio, e ninguém estava morrendo. Então, eu vou usar também.
Mas, naquela época, eu já falava muito de meios modernos de excelência da educação a distância, como levar uma aula magistral de Brasília, da UnB, para uma tribo indígena do Acre ou lá do Amapá ou para os quilombolas de beira de rio, como a gente faz para levar essa aula, um professor maravilhoso dando aula aqui, e todo mundo recebendo essa aula, abençoada, a distância. Falei e falei.
Aí descobri a Universidade de Santa Catarina. Naquela época, o Departamento de Engenharia de Produção da Universidade de Santa Catarina já estava trabalhando com educação a distância, ainda limitada ao Estado de Santa Catarina, mas já, naquele momento, muito bem. Então, nós passamos a fazer discurso nesse sentido. Aí coincidia com o Darcy Ribeiro, que era Senador aqui na época. E Darcy falava de educação. Ele falava: “Olha, gente, a escola tem que ser como uma igreja evangélica. A escola devia ser com uma igreja evangélica, com a porta aberta dia e noite. O pecador, na madrugada, arrependido, está lá chorando, deprimido, fez muita coisa errada. Então, ele resolve, o pastor fala na televisão, e vai para a igreja. Ela está aberta. Lá, ele chora, se arrepende, tem um pastor lá para dar um passe nele, para orar por ele, etc.”
Ele falava que a escola deveria ser como a igreja. A escola deveria estar aberta quando o trabalhador pudesse assistir à aula. Se o cara trabalha o dia inteiro e só tem folga de madrugada, ele vai para a escola de madrugada. Se ele tem uma folga e pode ir para a escola de 8h a 10h, ele vai de 8h a 10h. Se ele pode ir aos sábados e domingos, ele vai aos sábados e domingos. Darcy tinha essa ideia de que a escola tinha que ser aberta. A escola tem que ser assim, para valer.
E Mário de Andrade, na década de 30, foi diretor, em São Paulo, não era da Secretaria de Educação, mas de um departamento de cultura, não sei o quê, não sei o quê. Puseram o Mário de Andrade, que era meio amalucado, para ser Secretário de Cultura em São Paulo.
Mário era escritor, escreveu Macunaíma, tinha aquelas ideias malucas dele e tal, mas foi ser Secretário de Cultura. Ele falou: “Está tudo errado, está tudo errado na educação”. Ele desenhou a escola. Mário de Andrade desenhou. Na história da educação, há lá os projetos de escola de Mário de Andrade. Ele falava que a escola tinha que ser aberta. “O menino tem que andar, tem que correr ao redor. A escola tem que ter brinquedo, balanço, escorregador, gangorra, muita coisa, para o menino aprender brincando. A escola tem que ter janelas largas, para o vento de cá entrar e sair do outro lado, para não ser muito quente.” Ele desenhava a escola.
Como, naquele tempo, as escolas eram mais católicas, Marista, tal e tal, todo mundo falou: “Esse cara é maluco, esse cara é doido, esse cara quer esculhambar, porque quer abrir a escola de todo jeito. Cadê a disciplina? Cadê os meninos sentados um atrás do outro, caladinho, rezando o terço, Pai nosso que estais no Céu…?”. Então, aí, logo fizeram abaixo-assinado, manifestação, e ele apanhou, apanhou e teve que sair.
Então, as inovações são desse jeito. Então, vem a criatividade, vem o Darcy com essa cabeça que ele tinha, vem o Mário de Andrade, vêm tantos outros, vêm Anísio Teixeira, na Bahia, na década de 30… Anísio era um sujeito de uma inteligência fora do normal, um baiano que criou a primeira escola clássica integral na Bahia, na década de 30. Acho que ainda existe o modelo baiano lá da escola de Anísio Teixeira. Lá, naquele tempo, ele criou a escola com o menino estudando o dia todo, menino pobre, comendo na escola, estudando o dia inteiro… Esse era o modelo de Anísio. E lá vem Anísio andando no tempo, e chegou até a ser reitor da Universidade de Brasília.
Quando ele perdia um emprego na educação, ele ia fazer negócio. Ele pegava um burro, um animal, um jipe e sumia no mundo, ia fazer rolo, fazer negócio. Ele não parava, não ficava preso ao serviço público. Não deu certo, caía fora e ia se virar. Então, assim foi o trabalho.
O Fernando Henrique… Eu falava muito em educação a distância. Eu ficava lendo, copiando e falando. Eu pegava uma ideia e falava. Aí, Fernando Henrique, não sei ao certo em que ano, se em 1997 ou 1998, criou a primeira Secretaria Nacional de Educação a Distância e convidou para a Secretaria do MEC, na gestão Paulo Renato, um professor lá de Campinas chamado Pedro Paulo Poppovic, um sujeito enorme, com uns dois metros de altura, uns 130kg.
Não havia nem cadeira para sentar, não tinha mesa, não tinha nada; começou do zero a Secretaria Nacional de Educação a Distância. Primeiro, ele, que é muito competente, foi trabalhando e foi criando a Secretaria Nacional de Educação a Distância.
O tempo foi passando e vocês estão vendo hoje o que é a educação a distância no Brasil. Passados 30 anos, qualquer um de vocês, qualquer telespectador pode fazer um curso superior por meio da educação a distância, pode fazer um mestrado, um doutorado, pode fazer até um curso de veterinária a distância. Eu ainda não sei como eles fazem com a parte prática, mas certo é que há esses cursos a distância. Isso foi um milagre; foi um milagre brasileiro a evolução da educação a distância nesse período.
E o Estado do Amazonas lançou, pioneiramente, um modelo de mediação tecnológica, gerando aulas fantásticas em Manaus para aquele universo gigantesco de florestas, de cidades e de rios, com gente esparramada pelo mundo todo. Ele criou a mediação tecnológica, levando aulas… Há professor de Matemática lá numa tribo? Não há! Não há, mas ele levou aulas de Matemática de qualidade para essas comunidades, e com interação: o aluno recebe a aula e, por meio da internet, conversa com o professor; o professor manda as tarefas e o aluno responde para o professor. Então, essa mediação tecnológica maravilhosa Manaus desenvolveu. Depois, nós, em Rondônia, copiamos de Manaus. E assim, hoje, essa metodologia deve estar esparramada pelo Brasil inteiro.
Então, esse trabalho sobre o qual o senhor fala tanto, Senador Izalci, a internet para todos… É muito bonito falar em internet para todos. O senhor falou também aqui no Fust, esse fundo. Esse fundo é uma coisa horrorosa, vergonhosa; esse é um fundo idiota, que, realmente, existe por existir. Ele existe e não faz nada; é um dinheiro morto, opaco, enterrado; é um dinheiro que não deu o resultado necessário. Se esses recursos fossem convertidos em fibra ótica, o Brasil todo já teria fibra ótica, todos os cantos teriam fibra ótica. Custa R$10,00 o quilômetro de fibra ótica. É barato! Então, dá para esticar fibra ótica para todas as cidades.
Com a fibra ótica, aí, sim, é só puxar para dentro das escolas, das casas, das repartições públicas, propiciando assim uma internet maravilhosa. Por meio da fibra ótica… Eu comparo assim: há vários meios de transporte, há a rodovia, a ferrovia, a aerovia, a hidrovia e há também a infovia. A infovia é a fibra ótica. A infovia transporta o quê? Soja? Não. A infovia transporta dados, imagens e sons.
Então, é importante que ou a gente abra para a iniciativa privada, ou crie mecanismos de crédito para essa finalidade, para que a gente possa, aí, sim, levar a internet para todos, para as zonas urbanas, para as favelas…. Não se pode excluir a pobreza. Nós temos de levar a internet para as camadas mais pobres da população, para as camadas sociais mais desprotegidas, porque todo mundo tem um celularzinho – não tem um iPhone de R$10 mil, de R$11 mil, mas tem um telefone mais barato, ou seja, todo mundo dá um jeito de ter um telefone –, então, com uma internet boa e de qualidade para essas camadas sociais, o movimento brasileiro de compras, por exemplo, as compras pela internet, o e-commerce será mais favorecido.
E também os negócios. Todo mundo tem alguma coisa para vender em casa. Tem um sofá e quer vender, tem uma geladeira e quer vender, quer vender alguma coisa que está sem uso em casa, mas de que o outro precisa. Coloca lá no portal ou nos softwares de compra e venda e já vende. Não vende pelo preço cheio, mas vende pela metade e ganha dinheiro. Então, há uma transação comercial, inclusive dos produtos da agroecologia. Por exemplo, aqui Brazlândia, que produz tanta coisa na área de frutas – a goiaba, o morango… –, produz muita coisa maravilhosa aqui. Brazlândia pode também vender seus produtos para o mundo todo através da internet.
Sobre os laboratórios de informática, hoje ainda, Senador Izalci, é o seguinte: eu conheço escolas no interior que têm laboratórios de informática que estão há dez anos lá dentro e com chave e cadeado, não abrem. Aqueles computadores velhos, velhos e sem manutenção. E aí falta luz, não liga por isso, não liga por aquilo. Então, os meninos não têm acesso aos computadores. Então, sem colocar o computador nas áreas abertas, sem esticar essas salas de informática, sem colocar toda a estrutura de pontos de rede lógica dentro da escola, com boa qualidade de energia, o aluno não vai ter acesso.
Quando o menino começa a beliscar o computador, ele aprende até sozinho. O menino não tem medo. Eu tenho medo de celular, eu tenho medo de tocar e dar um curto-circuito, eu tenho medo de apagar tudo que fiz. Então, eu fico chamando: “Me ajuda aqui, me ajuda aqui, me ajuda aqui”. E o menino, o moleque de três, quatro, cinco, seis, sete anos não tem medo, não. Ele mete o dedo naquilo ali e vai. Erra, faz certo; apaga, depois conserta. E ele vai tocando e vai aprendendo. E descobre os jogos. Quando o menino descobre o jogo, o jogo inteligente, o cérebro dele se ilumina. O menino, aí, sim, aí está bem perdido; porque chega o pai, chega o avô, chega o tio, ele nem levanta a cabeça, porque o jogo atrai a vida dele.
Então, as tecnologias são importantíssimas na escola: a iniciação científica na escola, os computadores… Precisamos dar um jeito de jogar esses computadores velhos todos fora e comprar novos, com emenda do Senador Izalci aqui em Brasília, minha lá em Rondônia… E a gente vai colocar máquinas nas escolas para que os alunos possam acessar a internet, aprender muito e desenvolver muito o raciocínio e os contatos abertos com o mundo.
Então, o meu discurso hoje é esse discurso simples, sem estilo de discurso, mas também muito interessante porque é a realidade brasileira.
Amanhã estarei aqui com V. Exa. para abrirmos a sessão, com três, quatro, cinco Senadores, para dizer que o Senado existe. E há um detalhe… Não é para dizer que o Senado existe, eu fui infeliz ao falar isso. Ontem o senhor estava lá na sala do Davi, na sala da Presidência, e viu que foi aberta a Comissão da Reforma Tributária. O Senado e a Câmara têm feito um trabalho nesses dois anos impressionante. Amanhã a sessão é não deliberativa, de pronunciamentos, como este que eu fiz, como o que V. Exa. fez, e assim vamos dando satisfação ao nosso povo, conversando com o povo. Isso é muito importante.
Este ano nós temos a reforma tributária, que vai sair até julho; nós temos a reforma do pacto federativo, que deve sair também rápido; uma PEC emergencial, que deve ser votada; a administrativa, que não chegou, mas vai chegar; temos aí uma base de dez a quinze medidas provisórias, eu faço parte de três. Então, tem muito trabalho. A gente fica aqui igual a uma lançadeira de máquina de costura, não sabe para onde vai. Vai para cá, vai para lá. A gente não sabe se senta aqui dez minutos, se fica ali dez minutos, se corre acolá, um chama aqui, outro chama acolá; e você termina ficando, assim, multiplicado em muitos. Mas é nesta torre de babel que a coisa sai.
Então, muito obrigado a V. Exa. Amanhã, nós estaremos aqui para ajudá-lo a tocar a sessão não deliberativa.
Muito obrigado.
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