Eu fiquei diante de um abismo. Tão fundo que significa cair nele e não mais sair. O meu abismo figurado é o de colocar borboletas nas minhas palavras. Me diz, como coloco borboletas nas minhas palavras? Eu resolvi mergulhar no admirável mundo da dúvida, da fantasia, águas profundas para entender, como colocar brincos nas palavras. Tingir as palavras, deixá-las no estilo do carnaval.
Eu quero dizer como Dylan Thomas, “trabalho junto à luz que canta/ não por glória ou tráfico de encantos/ nos palcos de marfim/ mas pelo mínimo salário/ de seu mais secreto coração/ escrevo estas páginas de espuma/ não para o homem orgulhoso/ que se afasta da lua enfurecida/ Nem para os mortos de alta estirpe/ com seus salmos e rouxinóis/ mas, para os amantes, seus braços/ que enlaçam as dores dos séculos….”
Agora, não sei como Dylan pôs aqui borboletas nas suas palavras? Mas, fez por onde colocar doçura do mel, ventos de grandeza da sua alma, atenuar sua vida de pobre e andarilho. É este o mistério da lapidação.
E ver e sentir que tudo é a mesma coisa. O cheiro do jasmim é o cheiro da sua própria vida, da essência do seu mais íntimo. A intimidade. profundidade, silêncio para se chegar a essência de cores e cheiros. As percepções que parecem com sonhos. Isto tudo pode ser comparado a uma tradução, o significado dos sinais na pedra, as escritas milenares, figuras riscadas nos talhões de rochas de outras civilizações.
Não quero dizer qual seja mais belo, se o vermelho, verde ou amarelo. Não quero. Assim como não posso dizer dos seus sentimentos mais íntimos. Não quero. Não preciso saber tudo. Só traduzir para as palavras, o encanto dos cheiros, as razões das organizações das abelhas, do mel, todo este respeito hierárquico que elas tem.
Eu preciso de metáforas para transgredir. E explicar sem os cálculos estatísticos as doçuras, a aerodinâmica dos voos das aves. As confluências das borboletas nos seus festejos sobre terras molhadas. A palavra pode ser geneticamente modificada, num laboratório, e receber os gens da ilustração das tintas. Como a força das revoluções, porque as palavras têm energia das balas e do amor.