Ver para crer

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Ver para crer

A boa comunicação é tudo. Falar do que se fez e faz. Mostrar. Porque, em matéria de governo, o que você fez e não fala, você não fez. Claro que cada governante precisa mostrar o seu feito para o povo. Tem coisa que não interessa a todo mundo. Mas, como se diz, quando o dedão do pé dói, o corpo inteiro sofre. E assim é a comunicação, e o feito interessa ao Estado inteiro.

Estou escrevendo este post ouvindo David Bowie, que morreu há um ano. E ele está me ditando a batida da tecla. Acho que eu estou escrevendo com veemência e ousadia, porque estou ouvido David Bowie aqui, no Youtube.

Se uma obra em Cabixi é feita, Rondônia inteira deve saber, mesmo que você nunca tenha ido a Cabixi. E por falar em Cabixi, noutros tempos, para dizer que um funcionário seria penalizado, como se fosse para a Sibéria, era dizer: – cara! Ou você toma jeito ou vou lhe mandar para Cabixi. Hoje, eu mesmo, ficaria muito feliz se me mandassem para Cabixi, lugar bonito, rico, plano, encantador, além de estar nas bacias de dois rios lindos, o Cabixi e o Guaporé.

Deixando de lado devaneios cabixianos, eu tive ontem, em Vilhena e juro que não vi Vilhena, passei por ela, como um raio,  do aeroporto à BR-364 e sumi no mundo, por estradas de areia, como se tivesse movendo num deserto. Areia movediça, que por ironia encontrei um caminhão atolado no areal. E fui andando, totalmente perdido na orientação espacial, peguei o lado da BR que achei que seria o lado direito de quem viaja para Cuiabá, mas, pelo que vi, entrei foi pelo lado direito de quem vai para Pimenta Bueno.

De uma forma ou de outra, entrei no areão e fui rodando nele. Uma terra que se olhando não serve pra nada, a não ser para uma vegetação exclusiva,  que nem é de cerrado e nem é de savana, uma vegetação própria daquelas bandas. Bioma estranho, um cerradaço sem brejo, sem buritizais, sem o capim provisório, sem pequizeiros.

E fui andando, melhor dizendo, rodando.  Passei por um assentamento rural, enfiado na areia, onde, ainda existem moradores capinando. Tentaram plantar mandioca ali, mas não deu nada. Algumas criações, galinhas e vacas, esquálidas como a pastagem raspada em cima da areia. Vi alguns pés de bananeira, num assentamento cruel, eu confesso que não acredito, que este assentamento tenha sido feito pelo INCRA.  Porque se foi feito pelo INCRA seria um caso de prisão perpétua para quem o planejou, ou poderia ser algo futurista, quem sabe? Um campo de extermínio de gente pobre, porque humanamente, ninguém poderia assentar famílias em bancos de areais. A não ser que viesse para cá os judeus com seus kibutz para ensinar brasileiros pobres a plantarem em desertos e colher frutas especiais, amêndoas e mangas. Se David Bowie estivesse cá entre nós, mandaria esta crônica para ele melodiar numa música trágica.

Eu ainda não conheço nenhum libanês, judeu, egípcio ou gente acostumado com a aridez dos desertos, na Emater ou no Idaron.  Pois é, e fui andando, mais à frente em cima do areão calcinado foi se descortinando um admirável mundo novo, verde, jubiloso, rutilante, como espelhos ao sol – as florestas plantadas, com PINUS, clones da América Central, riqueza viva, florestas plantadas. Município de Vilhena, subindo mundo afora, rumo ao Mato Grosso, à Pimenta e a Espigão, lá vai a floresta andando, linda, fantasiada de folículos espiculares abundantes, como se fossem  árvores fantasmas, para pular o carnaval, tal são as fantasias que as envolvem. Milhares de hectares de PINUS, que se produz  uma resina fantástica, serve para tudo ou quase tudo. Terra tudo dá. Não dá mandioca, nem pasto, nem verdura, mas o PINUS se ajusta e com uma exuberância incrível.

É a nova economia de Rondônia pulando da aridez do cerradão arenoso para a utilidade bem maior que a utilidade dos kibutz. Eu estou falando pra vocês, que tudo isto, veio de pouco tempo pra cá, com o apoio do governo, com os seminários, com a ousadia dos empreendedores de Vilhena e Pimenta Bueno e vai rolando a vida, subindo por Rondônia inteira, e aqui eu digo pra vocês de todo meu encanto por estes imensos desafios bons, saudáveis, sustentáveis, economicamente compensador.

Vá Rondônia, lentamente, palmilhando areia, morros, com seus chinelos encontrando os novos caminhos. Porque em Rondônia ainda tem novos caminhos. Agora, tristemente, vou ter que sair. E vou deixar David Bowie cantando sozinho.

 

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