SURPRESA

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Surpresa existe. Como algo inesperado que aparece de repente. Mas, que surpresa! A SUPRESA que falo aqui, não é do espanto, e sim uma vila ou distrito de Guajará-Mirim, que só chega a ela depois de várias horas de voadora motor 90 ou de avião. O nome não poderia ser mais oportuno, porque há algo surpreendente ali. Os encontros dos rios Mamoré, que vem da Bolívia, com o rio brasileiro, o Guaporé. surpresadeltadosriosFormando um delta complexidade de cores e de águas com densidades diferentes. E forma uma enorme rebeldia neste encontro, de águas que parecem falar idiomas diferentes e não se entendem bem. As cores brigam no encontro. E se soltam para fora dos seus leitos em lagos, canais e num redemoinho de águas  querendo possuir a gleba inteira. Não se tem abismo para se espantar ali, nem é destino comum de turistas e aventureiros. Só vai quem mora ou precisa de uma visita bem tardia, se não for agora, pode-se não encontrar em vida a pessoa querida que se deixou viver neste canto do mundo, abençoado por águas pássaros.

 Mais que se vê é  a intimidade do brasileiro com o boliviano. Até parece um território comum. Os  meninos da escola se articulam muito bem com o bolivianos do outro lado. E há um acordo não escrito de boas relações entre os países, Brasil e Bolívia, que chamo de MERCOSUL às avessas. Onde tudo pode onde tudo se troca.  Onde num país é proibido, no outro é permitido.  A tartaruga brasileira não se pode abater, mas, do outro lado do rio tudo se pode. Bem fácil, pega a tartaruga brasileira, atravessa o rio, abate-a e faz-se os pratos mais deliciosas e traz de volta. A lei foi cumprida e tudo reina em paz. surpesaindias

Eu gosto de SURPRESA. Já fiz peregrinações pelas beiras do Guaporé há vários anos, subindo bem devagar o rio até Costa Marques. Parando nas ribanceiras, assistindo jogo de futebol entre índios brasileiros e bolivianos e nos festejos do Divino Espírito Santo. As terras são para mandiocas e bananais. O peixe é abundante. Quatro tribos distribuídas no entorno. E esqueceram de levar água para todos, um paradoxo com tanta água e faltando água para se beber. As enchentes do ano passado fizeram estragos impagáveis. As escolas são ainda precárias e centro de saúde em obras. Professores abnegados que bem mereciam receber premiações nacionais pela causa exercida com imenso patriotismo. O que mais encontrei foi pleitos justos, nada além do estritamente necessário, o mínimo indispensável para se viver. Abracei os alunos, maioria carrega forte sangue indígena. Mandei construir Centro de Saúde, Escola nova, reformar e ampliar outra. A escola municipal foi destruída pela cheia do ano passado. Mandei construir nova. Agora,  “a chata” para transportar mercadorias, duas voadoras com motor 90 HP, dois poços artesianos e redes de distribuição de água. Este encontro com a paz e a felicidade, onde a vista adormece no encanto da natureza e o anoitecer tem sinfonia de pássaros desassossegos, chega a dar muita vontade de viver ali e antecipadamente se entregar a eternidade do homem que vive com o essencial.  Por que não viver onde o pouco é suficiente? E a tudo natureza é farta e abastece sem a necessidade de se ter dinheiro para que um se sobreponha aos outros? Aqui até parece que está um novo homem e uma forma de autogoverno que se próprio gere, numa vida admirável de relacionamento muito superior ao capitalismo puro e ao socialismo convencional. Reina por aqui uma forma de convivência com base na solidariedade, a dura solidariedade da floresta com o homem e com seus rios e com seus povos. Em Surpresa tudo fica além da linha do horizonte e muito perto do sol que sempre às tardes se aloja vermelho sobre a floresta do lado boliviano. 

 

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