Confúcio Moura (dezembro de 2014)
Caiu o muro, cresceu erva no monturo, foi assim que disse José Mariano dos Anzóis Pereira, quando soube que eu era estudante de medicina. Eu achei a frase tão feliz que não me esqueci dela. Que passou pra mim como inspiração de vida e que bem-aventurados sejam os lixões e os monturos.
Os luxos próprios dos monturos tem sua química de prosperidade e um apreço pelas coisas desprezadas, que não deixa de ser um feitiço transformador.
Como posso jogar fora meus passados de criança, meus entulhos , quando não sabia nada de mim e nem me interessava por futuro, porque desconhecia o alcance dele. Já que eu era erva que pragueja e dava como satisfeito pela exuberância dos fermentos dos monturos.
O meu futuro no monturo não poderia ir além da Serra Geral, perseguir tatus, procurar ninhos de emas e trazer sacos de buritis dos brejos. E ficar por ali mesmo curtindo algo bom, que pode ser ingênua liberdade e a felicidade dos selvagens, que não me atrevia trocá-lo por outra aventura qualquer.
Ele veio me explodir por dentro e me jogar num caldeirão de coisa difícil que me deixou outro.
Completamente outro.
Indignado entre dois seres, que sou e que fui. Pena que não conversam mais entre si. Recebi uma nova doma e de outro domador, o próprio mundo me acomodou como se combinam todos os lixos de trapos, comidas, animais mortos, ciscos de rua, papelões, chuva, sol e umidade. Aí está o caldo de cultura da prosperidade dos monturos
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