A prática do “carreiro”

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A prática do “carreiro”

“Carreiro” era o homem que tocava o carro-de-boi, as juntas de bois encangadas, sozinho, carro chiando de peso, pedra, mercadoria, lenha, areia e tudo mais. Cada boi tinha o nome. O boi entendia a voz do “carreiro”, o aboio, o tilintar das argolas na ponta da vara, e a palavra mágica que sempre dizia quando queria parar “ôaaaa” e repetia tantas vezes o “ôaaaa” e era obedecido. Os bois entendiam o comando do “carreiro” e tudo acontecia, porque os bois foram amansados para esta cultura de sabedoria.

Eu já vinha pensando nisto, há dias e falado a todos que eu precisava governar diferente.  Querendo dizer com isto, governar descarregando as tensões, movimentando, abaixando, bebendo água com as conchas das mãos, de perto, vendo o que está sendo feito, e tendo um fio terra agarrado em mim, para que cada faísca elétrica que entrasse no meu corpo escorregasse para a terra.

Eu ali, perto daquilo que sonhei, planejei, economizei dinheiro, agora, quero traduzir o sonho e pegar a realidade da obra, encangada com borracha, hoje em dia, não consola, como no passado, eu quero comer com os olhos. O fato, o atendimento. Do sentimento intraduzível de ver a coisa feita ou andando pra feitura.

Porque o Gabinete, o Governador, Prefeito ou Presidente, deveria ser como o “carreiro”, não parar nunca, e ali não tem como se mexer, quando muito dez passos na direção de um banheiro, um gole d’água, enxurrada de cafezinhos. E juntar cargas de pretensões, não por mim consideradas urgentes, nem sempre necessárias, mas, pelos outros movidos.

E o Estado é grande, nele há suplicações não ouvidas, mas, tão distantes, que não se mexem e não serão jamais atendidas. E tão justas e tão pequenas, e tão baratas que vai se deixando pra lá. Na rua da amargura ou da surdez dos grandes números.  Maior parte do que se precisa fazer é de pequeno gasto e é tão importante cinqüenta mil como cinqüenta milhões.

Eu quero viver de agora em diante, como governador, além de “carreiro” como tanto admirei na vida,  com um para raio na cabeça,  escorrendo energias para debaixo do chão, bem rapidamente. Eu tenho pressa, não como a pressa possível de JK, que marcou o dia de inaugurar Brasília e inaugurou.  Porque  se fosse hoje JK não teria feito nem a Cidade Livre e malmente a Vila Planalto e Brasília ainda seria uma Planaltina ou quando muito uma Formosa.

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