- Cruz e Souza (poeta negro, fantástico, pobre e excluído, deixou nos poemas a sua indignação:
Escárnio Perfumado
Cruz e Sousa
Quando no enleio
De receber umas notícias tuas,
Vou-me ao correio,
Que é lá no fim da mais cruel das ruas,
Vendo tão fartas,
D’uma fartura que ninguém colige,
As mãos dos outros, de jornais e cartas
E as minhas, nuas – isso dói, me aflige…
E em tom de mofa,
Julgo que tudo me escarnece, apoda,
Ri, me apostrofa,
Pois fico só e cabisbaixo, inerme,
A noite andar-me na cabeça, em roda,
Mais humilhado que um mendigo, um verme…
2. Orides Fontela (poetisa paulista, de difícil trato, solteira e solitária, morreu praticamente como indigente. Deixou uma poesia de arranjo de filosofia e com seu mundo de silêncio).
Teia, não/ mágica/mas arma, armadilha.
a teia, não/morta/mas sensitiva, vivente
a teia, não;arte/mas trabalho, tensa
a teia, não/virgem/mas intensamente/prenhe
no/centro/a aranha espera.
3. Manoel de Barros (advogado, fazendeiro, pantaneiro do Mato Grosso do Sul. A poesia nasceu dele e da sua visão das coisas simples). Veja “Estreante”
Fui morar num pensão na rua do Catete/ A dona era viúva e buliçosa/ E tinha uma filha Indiana que dava pancas/Me abatia/ Ela deixava a porta do banheiro meio aberta/ E isso me abatia./Eu teria 15 anos e la 25/ Ela me ensinava:/Precisa não afobar/ Precisa ser bem animal/Como um cavalo. Nobremente/ Usar o desorgulho dos animais/Morder lamber cheira fugir e voltar arrodear/ lamber beijar cheirar fugir voltar/ Até/ Norbremente. Como os animais./ Isso eu aprendi com munha namorada indiana/ Ela me ensinava com unguentos/ passava unguento passava unguento passava unguento/ Dizia que era um ato religioso foder/E que era precisa adornar os desejos com unguento/ E passava unguento e passava unguento/ Só depois de adornava bem ela queria./ Pregava que fazer amor é uma eucaristia/Que era comunhão/E a gente comungava o Pão dos Anjos.
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