Jerônimo Santana, tinha o apelido de o Homem da Bengala. Era pesado, barrigudo e tinha um defeito numa das pernas. A bengala sempre na mão. Ao encontrar uma pessoa, o cumprimento era uma pancadinha no ombro com a bengala. Na década de 70 foi Deputado Federal e tirou por lâ alguns mandatos. Tinha discurso forte, era do MDB, contra a ditadura militar e por assim dizer – não gostava dos militares.
Aqui no Estado, era radical, Governador nomeado e militar com ele, era como uma cobra venenosa, ele queria era matar. Falava mal deles por todos os cantos. Era um grande orador.
A luta do Bengala era contra a ditadura militar e transformar Rondonia de Território Federal em Estado. Pregava a liberdade, a democracia, eleições livres e diretas e uma nova Constituinte.
Não conhecia o Bengala, mas, fiquei seu fã e admirador. A gente tinha um sonho e fórmula mágica pra tudo. Em nossa cabeça, derrubar a ditadura, não pagar a dívida externa e fora ao FMI, resolveria todas as nossas desgraças. Eram os nossos sonhos de consumo.
De vez em quando Jerônimo vinha a Ariquemes, hospedava-se no Hotel do Cici, que anunciava no alto-falante (pau do fuxico), eu largava o meu serviço para andar com o Bengala pela Vila.
Tudo em Ariquemes era precário. Barracos de madeira, lona ou palha, tocos ainda queimando nos quintais, malária dizimando gente, era feio de ver, verdadeira guerra civil. E nós peregrinando no entremeio de tanta ousadia e esperança, o homem subestimando a própria existência e acreditando em milagres de terra fácil e financiamentos para todos. Era o Eldorado brasileiro.
No meio da fumaceira e poeira Jeronimo seguia criticando tudo. Ao ver único casebre de alvenaria, seus olhos brilharam e perguntou de quem era a casa: – Olavo Nobre, administrador da Vila. Alguns puxa-sacos por volta, eu era um deles. Tirou uma foto. Falou alguns impropérios e foi embora. Na terça-feira em Brasilia, desferiu um demolidor discurso, que chamou de crime de guerra do Governo Militar a ocupação irresponsável da Amazonia. Atacou de todo jeito, desonestos, vendedores de terrenos para miseráveis, corruptos e o único milionário da cidade era o Olavo, que havia construído uma mansão entre barracos.
Pobre Olavo, que o conheci bem, honestíssimo, que nem talheres tinha em casa para servir bem aos visitantes ilustres quando vinham a Ariquemes. Mas, na língua do Bengala, quem servisse ao Governo, se não tivesse defeito ele botava. Mais tarde se elegeu Prefeito de Porto Velho e Governador do Estado. Dinheiro nunca teve, mas, coragem nunca lhe faltou.
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