Nas feiras de Porto Velho tem tucumã para vender. Com a polpa amarelada se faz sorvete, picolé, sanduíche, suco e está no gosto do povo. E dentro do cérebro há o registro da sua necessidade e do paladar exótico que se arrasta por gerações.
O Bairro do Tucumanzal é orgulhoso do nome. E o mestre Setembrino tem na cabeça o mapa das palmeiras do pedaço de floresta, entre o Bairro Nacional e o aeroporto de Porto Velho. E adentra nela pelo Parque Circuito e desaparece na mata. Mais tarde retorna com sua carga de tucumã maduros. A carga lhe tem serventia de renda e alimento de que é tão devoto.
E neste veio de conversa eu penso no homem coletor de frutas, como meio de vida e sobrevivência. Pelo sentimento deles a floresta ficaria íntegra. O Amazonas, Acre, Amapá se despontam como protetores da floresta. A Florestania. Os rios limpos, puros, ricos em peixes. Guajará-Mirim mantém a sua floresta em pé. Os índios, ribeirinhos e quilombolas são amantes dela.
E por ironia, o homem coletor, no geral é pobre. É desprovido de assistência. Ama a floresta, os rios e os igarapés e os seus segredos. Imensa riqueza que se decanta no verso. Que se exalta no discurso. E o extrativista em si mesmo é pobre. Enquanto a floresta não para. Trabalha dia e noite pelo planeta. Oxigena o mundo. Exala riqueza. Ele é aderente e se completa com a natureza. Conserva-a. Vive dela com vida minguada.
A floresta em pé vale mais que o ouro da terra. E onde está a ironia dos que vivem num ambiente tão fraterno? Do coletor de tucumã, açaí, palmito, borracha, castanha e tudo mais? Eles conservam seus ambientes, enquanto os que a destroem se distinguem na riqueza. Destruir dá dinheiro. Mantê-la ainda não dá. Ainda falta o modelo inteligente para se romper com este paradoxo, mesmo que tardiamente.
Na China rica, o povo anda na rua com máscara. E o mestre Setembrino não precisa de máscara e como milhares iguais a ele continua a sua lida de conservação: o coletor de tucumã em Porto Velho.
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