O buraco da bala

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O buraco da bala

Tudo ainda era um começo e  bruto em Ariquemes. Lá vinha o tempo rolando e já tinha embocado nos anos oitenta. Chegou um doente baleado ao hospital, nem sei se pode chamar aquela geringonça de hospital, mas, onde não se tinha nada, o que tivesse cheiro de remédio, já se podia chamar de hospital.

E foi Alice quem o atendeu, um tiro na bunda e que não tinha saída pra lugar nenhum. Ele se vestia com uma calça, naquele tempo, chamada de calça Lee. O que hoje é o popular jeans. A calça não tinha nenhum sinal de sangue, na cueca apenas uma bola vermelha em cima do orifício de entrada. Até aí tudo bem e lá vai Alice fazer perguntas, depois de medir a pressão arterial, ver a mucosa dos olhos e olhar a frequência do coração. Um soro fisiológico na veia para o início do procedimento.

Agora, seria fazer a investigação completa do caso, já que se tratava de uma  tentativa de homicídio. Ele não queria responder nada. Até que Alice deu um cheque-mate: – mas, Juarez, a bala não furou a calça e nem a cueca, que mistério é este? Ele respondeu: – Dra.  Alice não me faça perguntas, cuide de mim e pronto. E Alice foi fazendo rodeios, agora, mais por curiosidade do que propriamente de interesse médico, porque o camarada foi baleado mesmo.

Ela mandou chamar o Sargento Brasil, chefe do destacamento do Distrito, para dar conhecimento da ocorrência, que era, naturalmente, competência dele, o que  não tardou a chegar. Sabe como é que é delegado de interior, autoridade pra cacete, não tem rodeios: – vai ou não vai me contar esta história direito, cara? Juarez, não teve jeito, choramingando, começou a debulhar a conversa. Tinha se metido com um namoro com mulher casada, inesperadamente o marido chegou. Ele teve que pular a janela completamente pelado e ao se agachar para passar pelo arame da cerca, o cara disparou a espingarda, a bala entrou no traseiro e ficou alojada na barriga. Daí pra frente foi a cirurgia e até hoje ele circula, vivinho da silva nas ruas da cidade.

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