Domingueiras 07 (agosto de 2016)

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Domingueiras 07 (agosto de 2016)

De vez em quando, posto aqui, algumas poesias. Mais  para fazer provocações, do que propriamente, para serem lidas. Maioria esmagadora das pessoas, não suporta poesia. Como se elas fossem, alguma coisa,  para quem “vive com a cabeça nas nuvens”.

Nós, os brasileiros, estávamos precisando de uma injeção de vitaminas nas veias,  para nos animar. E veio, com extremo bom gosto, a abertura das olimpíadas. Mexeu com todo mundo. E com o mundo. Só isto, foi bom demais. Atenuou a nossa agonia. E com certeza, de agora pra frente, teremos muitas outras notícias maravilhosas, como foi  este triunfal show.

Gente do céu! Vamos parar com esta mania de vaia pra tudo. Se o povo vaia o seu Presidente, mesmo que seja INTERINO, acho uma tremenda falta de respeito. Como é que o país vai querer exigir respeito dos outros, se aqui dentro, não respeitamos nem o nosso Presidente?

Foi falado na grande festa de abertura no cubismo de Athos Bulcão, foi um dos brilhantes artistas plásticos da fundação de Brasília. Decorou com seus azulejos, cubos, esculturas, recortes e desenhos a nossa Capital Federal. No Salão Verde da Câmara dos Deputados, Teatro Nacional e muitos outros prédios importantes, suas paredes são cobertas pela obra de Athos Bulcão. Vocês podem ver nas imagens do Google.

Clarice Lispector escreveu uma belíssima crônica sobre Brasília,  em 1962, demonstrando imenso espanto com a cidade no meio do cerrado. Veja o início ; “Brasília  é construída na linha do horizonte. Brasília  é artificial. Tão artificial como devia ter sido o mundo quando foi criado”.

 

Sei que você não gosta de poesia, mas, o show de abertura das olimpíadas foi uma grande poesia. A criação, o roteiro, a imaginação, cada passo foi um encanto poético traduzido, então, vou presentear a todos vocês com SINGELEZA  do poeta e escritor argentino Jorge Luis Borges:

Abre-se a cancela do jardim/ com a docilidade da página/ que uma frequente devoção interroga/ e dentro os olhares/ não precisam deter-se nos objetos/ que já estão cabalmente na memória.  … Conheço os costumes e as almas/ e esse dialeto de alusões/ que todo agrupamento humano vai urgindo. …. Não necessito falar/ nem mentir privilégios: / bem me conhecem aqueles que aqui me rodeiam/ bem sabem minhas penas e minha fraqueza. …. Isso é alcançar o mais alto/ o que talvez nos dará o Céu: – não admirações nem vitórias./ mas, simplesmente ser admitidos/ como parte de uma realidade inegável/ como as pedras e as árvores. 

 

Mais outra de Bruna Beber, uma menina do Rio:

Na minha casa você pode flagrar alguém/ se escondendo da rotina num quarto escuro/ e batendo a cinza do cigarro na janela/ enquanto espia as roupas dançando em silêncio/ no varal da área/ as três da madrugada/ você pode flagrar alguém preocupado/ segurando uma caneta com vinho vagabundo/ dormindo fora de hora/  pensando demais na vida/ e no tédio que é/ essa falta de paixão. 

 

Não vou falar quem é o autor deste poema, apenas, o  seu nome: POEMA SUJO

turvo turvo/ a turva/ mão do sopro/contra o muro/escuro/ menos menos/ menos que escuro/ menos que mole e duro menos que fosso e muro: menos que o furo/escuro, mais que escuro: claro? como a água? como a pluma? claro mais que claro claro: coisa alguma e tudo/ ou quase……..A cidade não está no homem/ do mesmo modo que em suas quitandas praças e ruas… a cidade está no homem/ quase como a árvore voa/ no passáro que a deixa.

 

9. Pode deixar que eu mesmo me mato/ pode deixar que eu mesmo me enterro/ pode deixar que eu mesmo me vingo/pode deixar que eu mesmo me liberto (Nicolas Behr)

 

10. Hoje, você viu que eu peguei pesado na poesia. Eu recomendo que leia um poema sempre em voz alta. Por fim, José de Alencar, goiano e tocantinense de Dianópolis:

Qual será o último soneto que vou te dar
De onde ele virá sendo dono de que nem sei
Não arrancará de meu coração o último porto
Mas pode tomar minhas mãos e ficar em silêncio

E dizer que portanto ainda vou te escrever
Com todas palavras arrastadas de silêncio
Por onde percorro minha vida de ser tua
E te deixar sorrir pra que eu cante

O soneto pode sim, triste, ir-se embora
Mas vai ficar o parto da palavra ruída
E eu posso de amor urdir essa palavra

Reformá-la e dizer que ele pode ficar
Que a gente vai se juntar de horizonte
Pra sempre se perder de todo abismo.

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