A palavra dieta bate na minha cabeça como tortura, bate na sua, bate na do mundo inteiro. Bem melhor falar “reeducação alimentar”. O homem de hoje deseducou-se para comer. Somos todos insatisfeitos demais. Num extremo – o magro demais, o bulímico, o caquético, o anorético. E no outro – o gordo demais, o faminto demais, o glutão.
Tem comida demais para muitos, tem comida de menos para muitos. E tudo é muito gostoso, tudo é muito doce, tudo é muito sedutor e tudo é tudo. Agora, a palavra dieta bate forte como sacrifício. É como uma foice amolada sobre a cabeça. A palavra dói. Vem como alguma coisa condenável, que faz a gente sofrer, deixar de comer o que sempre comeu e gostou. É como uma bigorna apertando o crânio.
Quando menino, nunca ouvi ninguém usar a palavra “dieta”. Nos anos cinquenta, nos anos sessenta e chegando aos anos setenta, ela existia, mas era pouco usada. Todo mundo comia de quase tudo; o que era de costume, o que se fazia em casa, o que se comprava na roça, o que se plantava no fundo do quintal, o porco gordo do chiqueiro, a vaca criada nos ermos gerais, os bichos do mato e as frutas do cerrado. Se via pouca gente gorda. Vejo fotos dos meus colegas de ginásio e não havia nenhum gordo. Nem havia sobrepeso. Agora, grande parte da população sofre, e sofre muito.
A comida veio como uma coisa viciante. A pessoa fica dependente, o cérebro se embola, se acostuma, e só quer o que seja abundante, saboroso, quase sempre atraente aos olhos. O prazer de um lado e a penitência do outro. O maldito espelho, a roupa que não se ajusta, o olhar comparativo, e por aí vai a sofrência, o vale de lágrimas e a busca pelo milagre.
Se eu voltasse a atuar como médico, confesso para vocês que seria um médico totalmente diferente. Eu seguiria no rumo da medicina preventiva, cuidar antes para evitar a doença depois. A fórmula não teria nenhuma novidade. Perder peso exige sacrifício, mudança de comportamento, comer menos, comer na hora certa. O exercício físico e o controle do estresse são indispensáveis. É preciso fazer meditação. Seria o médico chato, mas conversaria muito. Pediria menos exames e receitaria menos remédios. Tiraria das pessoas a obsessão por calcular calorias, em cada porção de fruta, de bolo ou de doce. A regra é uma só – controle, porque comer demais é vicio.
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