Já estou movendo dedos, olhos e pensamentos.
Agora, que é segunda-feira, três horas e vinte e nove minutos da madrugada.
E seguir o caminho de sempre, trilha conhecida, e vou me movendo até chegar lá e iniciar mais uma semana de trabalho.
Conheço o caminho sem abrir os olhos. Cada quebra-molas eu sei onde estou. Passando pelo Rio Preto, os dois seguidos no Rei do Peixe. E outros também.
Sinto a Floresta do Jamari, ainda noite, ouço o vocabulário da região – cassiterita, tantalita, volframita, columbita. E estas palavras me perseguem por longo tempo.
Eu sigo, como todos aqueles que se movem para o trabalho de imprevisões, tal qual o garimpeiro. E vou.
De tanto ir e vir decorei a estrada. Ela me parece um verso esticado, como os Lusíadas e seus barões assinalados.
Não sei com certeza, o que me ocorrerá. E ninguém sabe de nada, nenhum palmo à frente do nariz. E nem o que terei de fazer exatamente, um arriscado devaneio, inexplicável, apor assinaturas sobre destinos dos outros e sempre, estar consigo entendido, que tudo dará certo.
Seja o que for e tudo mais se completa a cesta da minha vida, o resultado das minhas ações de governo, virá da soma do trabalho dos outros, de cada um, esteja onde estiver.
Lá terei os imprevistos, os interesses palpitantes e os conflitos armados, as vaidades exuberantes, os choques pelos espaços de poder. A luta invisível de traições.
Esta é a doce e admirável vida das ilusões, plumas ao vento, busca inconsciente por um poder inexistente.
Tudo precisa ser desarmado e tudo acontece guiado pela natureza da coisas e pelas intuições de momento e maioria delas coisas não pensadas.
Cheguei. Como de costume. Pouco mais de 6 horas da manhã.
Enquanto tudo isto ocorre, o Rio Madeira plácido curva-se em joelho, formando a esquina de águas contra o barranco, bem ali sobre o Bairro do Cai N’água
A minha visão fluidifica-se na água e na floresta.
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