A lista de pecados

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A lista de pecados

Se não sou um cristão devoto de corpo e alma, não foi por falta dos bons ensinamentos, doutrinas e dogmas. A primeira etapa do curso primário foi na Escola Batista, aprendi vários hinos que até hoje sei cantar.

Mais tarde, no curso ginasial, em escola de freiras espanholas, na minha cidade natal, Dianópolis, Tocantins. Naquele tempo era um sertão difícil de chegar por lá, mas, muito bom para se viver. O trabalho do Ginásio João de Abreu, das freiras e do padre João Magalhães,  que fizeram a história e a fama dos jovens nos anos 50, 60 e até hoje, assim como da Igreja Batista.

Eu já vinha por aí carregando adolescência no lombo e não tinha esta de fazer opção, a regra era dura, uniforme arrumado, calça azul marinho, camisa branca de manga comprida e gravata preta. O estilo espanhol de ser. E ainda bem. Rezava o terço todos os dias, antes de entrar para as aulas, o Pai-Nosso antes de cada aula, fila para entrar na sala depois do recreio, o silêncio, a sineta entre as aulas ainda  se rezava muito.

Na sexta-feira era o dia de se preparar para confessar.  No sábado a confissão e a comunhão no domingo. As freiras queridas recomendavam a todos que fizessem a lista dos pecados da semana. Colocasse na ordem de gravidade, dos mortais aos veniais, os maus pensamentos, as más obras, maus pensamentos  e as omissões. E cada um pegava uma folha de papel ou anotava na última página do caderno,   tudo que tinha feito de errado na semana. Coisa que sempre se repetia. Porque  num lugarejo daquele, não tinha nem espaço para pecados graves. A não ser um tragada num cigarro. Ou gole experimental de pinga. O mais mesmo, era a desobediência aos pais. As mentiras de sempre. O desrespeito aos mais velhos. Deixar de dar benção aos avós. Ficar reparando as meninas sentadas de mau jeito. Um briga aqui e outra ali. Um nome feio, palavrões.  Fora os tantos e muitos pecados da carne.

E todo mundo da cidade tinha muito medo de ir pro inferno. Então por isso os confessionário era congestionado. Com as anotações tudo ficaria mais rápido e depois era só pagar as penitências. E deveria encher o saco do padre, esta ladainha de besteiras.

Sempre tem numa sala,  aqueles benditos colegas,  que amam fazer o mal aos outros. E o que mais agredia principalmente as meninas era pegar uma lista de pecadas e soltar na rede social daquele tempo, de mão em mão. Tinha choro. Tinha bronca da madre superiora. Tinha até suspensão por alguns dias. O interessante é que todo mundo amava o malfeito. Mas, sempre a gente ficava esperando a próxima semana para astuciosamente conseguir quebrar mais um sigilo pecaminoso de algum colega. Este sempre foi o nosso maior pecado, nossa maior paixão.

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