Capa de chuva era raridade no sertão. Quando menino via apenas fazendeiros usando as de borracha na garupa do burro. Os vaqueiros e guias de tropas usavam “carocha” no meio da cangalha ou atada às costas.
Por pouco não chorei na Paulista com bombas de gás lacrimogêneo, ia subindo a grande avenida dia 12 passado, por cima helicópteros, por terra tropa de choque, bombeiros, ambulancias. O movimento dos que lutam pela tarifa zero do transporte coletivo. O governo aumentou-a para 3,80. Voltei por cima do rastro e me enfurnei no quarto do hotel e não saí mais.
No dicionário não há este significado, de carocha ser uma capa usada na chuva. Feita artesanalmente com palha de buriti, por sinal muito bem feita, como se fosse um esteira. Havia o “tapiti”, hoje, tipiti, que se prestava a espremer a massa da mandioca, numa engrenagem fantástica de alavancas. Uma verdadeira prensa, instrumento que veio dos índios.
A turma da luta contra o aumento da tarifa usava máscara. E o povo entrava no buraco de tatu do metrô com medo.
A esteira para se dormir, o “quibane” como se fosse uma peneira fechada, para abanar arroz socado no pilão.
Na Rua Augusta havia um mendigo inteligente: tinha debaixo do braço dois cachorros, enquanto um dormia sobre a coxa o outro lhe beijava a boca.
Alçapão, gaiola, peneira para o fubá, chapéu, tudo feito de talos, brotos ou palha do buritizal.
Muitas bombas, fumaça encobriu prédios ricos enquanto o povo fugia em manada.
Por aí vocês podem ver um dialeto diferente, que existiu e ainda existe e que por ser tão interior profundo, os dicionários não registram.
2.
Desde menino gostei de futebol.
Salve! Salve! Belém do Pará. Seus 400 anos, avenidas sombreadas, mangas caindo aos montes no mês de dezembro, as docas, o Rio Amazonas, os temperos picantes, o sotaque, carimbó.
No campo eu era um perna de pau. Só tem que não desistia em ser titular do Guarani, o meu time do coração em Dianópolis. Tio Totó era o presidente do time e eu fazia ata, cuidava do uniforme. Sempre estava nos treinos para completar os vinte e dois jogadores.
Em Belém sou freguês do Sagres, sempre bati às portas da SUDAM e caminhada no entorno do Parque Botânico, floresta tropical no centro da cidade. Um abraço para Fátima Pelaes e Queila diretoras e competentes da SUDAM. Por onde andará Eliana Zaca, extraordinária mulher de planejamento público?
Havia os fanáticos pelo time, adultos e respeitados conselheiros: Otavinho, Otacilio barbeiro, Tio Coque, Cantu. Dia de jogo o campo enchia de gente, gritaria, até choro.
Rondônia tem uma casa em ruínas no centro velho de Belém, servia de Casa do Estudante para alunos universitários. No passado Rondônia era bem ligada ao Pará. Agora, ficou tão distante!
A rivalidade era com o Jumentos e o Instituto. Chegou o dia da final, era de é rachar, tudo ou nada. Corria bem o jogo, com o Guarani ganhando de 2 X 0. O zagueiro machucou e não tinha ninguém para o seu lugar . Chegou meu dia. Entrei. Oba! Foi meu fim. Lá vem Zé de Ambrosina, o homem corria demais e chutava com os dois pés. Bem que tentei. Chutar a bola por cima do gol do Cantidio. Não deu outra, chutei. E fiz o primeiro gol contra. 2 X 1. Não tardou fiz o segundo, mas, contra de novo. Fiquei marcado pelo azar. 2 X 2. Perdemos o jogo. Nunca mais tive outra chance. Ainda bem, que fui ruim de bola, mas, bom de escola. Compensou. Gracias! Aos meus gols contras.
E Belém como vai o Paissandu?
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