A cadeia ficava na Rua de Baixo, lá em São José do Duro. Era um caixotão de alvenaria, um quarto (cela), um corredor e cômodo no fundo. Não me lembro de ver privada do lado de fora, porque do lado de dentro, mesmo menino, eu nunca entrei. Uma grade de ferro voltada para a rua e a cadeia era colada nas casas de residência. O que mais incomodava era, de vez em quando, ali se prendiam os loucos que apareciam. Ficavam dias e meses gritando e incomodando a vizinhança. O Soldado João, vestido de farda caqui, um cinturão preto ao meio da gandola, acima do umbigo, travado numa fivela prateada, símbolo e orgulho da PM de Goiás. O mosquetão 1909 a tiracolo, sabre e baioneta à cinta, coturno ou botina comum, subia e descia a rua a pé. Ele era a força de segurança do lugar. Era um homem de falar pouco, lógico, para meter moral no povo. E de vez em quando, demorado, ele conseguia prender um bêbado que incomodava em algum botequim. Sem viatura nenhuma, o perturbador da ordem e dos bons costumes, à frente dele, quando muito “chapado”, ele o conduzia pelo braço, descia a rua, o povo saia à porta para ver o desvalido e ficava cochichando atrás das portas, frestas dos janelões de duas bandas. Na cadeia, sem nenhum colchão, o preso deitava no cimento frio. A Maura e o Juvêncio, que eram os vizinhos mais próximos, de almas boas, caridosos, eram os que levavam água e um prato de comida, quando ele esguelava de sede pela grade. Dia seguinte, João ia à cadeia, pegava uma enxada no quarto fundo e dava um trecho de malva para o camarada capinar. Feito o serviço, o detido era liberado e vergonhoso, como todo sertanejo, o camarada sumia no mundo por vários meses e bem devagar vinha se aproximando da rua de novo. E ao chegar ali por perto da Rua do Cemitério, ele perguntava ao Lino Cabeça Gorda: – E o “amarrado pelo meio” está na rua?
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