Ainda é cedo, como de costume. Eu me levanto todo dia, abro as portas e janelas, dou uma olhada na cidade, olhar de cima do apartamento, a turva madrugada, os barulhos esparramados e serenos, refletem-se muito como ecos doidos, luzes piscam, estrelas piscam, o silhueta do rio escura, sem a curva, o Madeira não faz barulho por aqui e o vento preguiçoso. E amanheço querendo dizer que ainda estou vivo, bem aqui, diante do computador. E a única maneira de dizer que estou vivo é escrever alguma coisa, sei lá, se por instinto, como registro da história do tempo, sei lá.
Só sei que tenho vontade de registrar cada momento, porque os pensamentos são tantos, e eles escampam tão rapidamente, até parecendo que os pensamentos brincam com a gente, vem e voltam e a gente não para de pensar. Dizem os psiquiatras que os loucos não pensam. Eu tenho lá minhas dúvidas porque não tem como se fazer um raio-X do pensamento de ninguém. Nunca vi nenhum médico pedir ultrassonografia do pensamento, nem ressonância magnética, acredito que seja melhor não mexer com este assunto tão fosforescente, que é o pensamento.
No entanto, olhar a cidade de Porto Velho de cima, e vê-la esparramada na madrugada, até me parece que ela ainda está em sono profundo, sonhando com os anjos, com os bichos da floresta, com os peixes do Rio Madeira, dos igarapés que passam por perto e aquele sonho bem profundo, como se todos tivessem dormindo sob as águas rio. Do outro sem ainda ver o brilho das águas como espelho da cidade, o dito cujo Rio Madeira, mete na gente muita surpresa. Em tempo de antes havia o mesmo rio, com cachoeiras que os peixes brigavam contra a correnteza para a desova bem mais acima. Nunca vi bicho besta que nem peixe, tanta grota mais embaixo, tanto pântano bem mais perto, mas, não, queriam vencer as pedras, a imensa correnteza, para fazer filho no bem bom das cabeceiras.
Esta mania de peixes é o que posso chamar de amor exigente. Mas, esta minha escrita de hoje, veio assim, num tão de repente, que fui martelando os dedos nas teclas o que pude produzir foram estas idéias frouxas e mal traçadas linhas sobre o nada. Acho muito o nada. Agora, se eu for aqui, explicar o nada, creio que melhor seria voltar à Grécia antiga, para poder me dedicar dia e noite a filosofia.
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