Dia 5 de julho passado, bem cedinho, parada obrigatória à beira do Rio Madeira. A balsa, bem no delta do encontro das águas dos Rios Abunã com o Madeira. As águas dos rios são diferentes, em cores e composição. O Abunã, água mais clara vai se misturando a medida que escorre. Ali tem a balsa que dá travessia a todo tipo de veículo, e filas enormes de carretas, que pacientemente esquecem do tempo, porque ali, não tem o tempo certo de ir e vir. Ainda mais agora, com águas baixas e os bancos de areais.
Ao alcance dos olhos ergue-se a suntuosa ponte de concreto, que avança nas duas margens para se completar no meio do rio. Uma obra de engenharia importante, indispensável, e que vem se erguendo no momento certo. A gente fica olhando a ponte e reparando a balsa, cada qual terá a sua velocidade e destino.
São sessenta balseiros, uma lanchonete de cada lado, fundo de uma delas, os banheiros. Cerca de cinquenta mangueiras sombreiam paz e paciência aos motoristas. A ponte que já foi objeto de dezenas de discursos, de mil pedidos oficiais dos governos do Acre e Rondônia, tinha o seu tempo certo de brotamento, que só aparece a ação acumulada de todos os gritos e aflições, neste momento da história.
As coisas são assim mesmo, num país como o nosso, de pouco apego às obras de infraestrutura e geradoras de riqueza. Nada a reclamar. Porque a balsa com suas histórias, registra um período desta literatura amazônica, de águas que se misturam, de lentidão e olhares perdidos para cima, para baixo e para o alto. Um tempo que a mente vagueia na natureza dos lados brasileiro e boliviano. Gracias! E louvores aos céus pela balsa, balseiros, a ponte que surge, as duas lanchonetes que vendem pães de queijo e saltenhas. A Vila do Abunã com suas relíquias da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, as gaivotas, biguás e o vento frio da margem do rio.