CALAMA

Calama é Distrito de Porto Velho. Tive lá esta esta semana. Olhando pra baixo e vendo o Rio Madeira brincar  com seu destino. Rodeando terras abauladas, formando ilhas, comendo barrancos,  isolando-se em lagos, comunicando-se entre si por meio de “furos” naturais. E a floresta a sumir de vista, onde campeia o açaí, castanha, os bichos do mato, o tucumã, a palpitante vida. E nas margens, sempre presentes, palafitas e casas de madeiras onde caboclos não se arredam do lugar, por absoluto amor ao Rio e a paz de viver em permanente estado de contemplação.  À frente, chegando à margem direita do Madeira, há o encontro das águas dos rios Machado e Madeira, que se abraçam e se integram  de uma maneira tão suave, como um verdadeiro encontro de amor. E se desmancham em si mesmos, mais robustos e seguem como simples Rio Madeira e o Machado deixa de existir. 

Os bancos de areias afloram. As dragas que exploram ouro e esparramam-se nas curvas onde o ouro se depositou ao longo dos anos. E lá está o homem a chupar a areia e a ardilosamente fazer a separação dos diversos elementos, até distinguir nas máquinas o ouro que depois de extraído desaparece pelo mundo,  como se não saísse das águas destes Estado. Cheguei  à Calama e fui direto à escola General Osório. As alunas se apresentaram estilosas, com saias estampadas e florais amarelos, para todos nós expectadores,  numa dança amazônica, mistura de várias delas, um carimbó modificado e vi ali a beleza mestiça das meninas e a graça delas na apresentação. 

Foi feita a roda para as conversas com a comunidade. Onde cada um pode falar. O padre falou do barranco que solapa o distrito e ameaça a igreja. Uma rua que já foi engolida. Priscila pediu urgência na recuperação da ponte de ferro que interliga duas partes da vila. O perigo de acidentes. Tuniquinho pediu calcário para corrigir o solo para produzir mais mandioca. Ivan pediu a construção  da rampa para o acesso de embarcações, um flutuante para receber as balsas. Adalberto, que não sabe ler e nem escrever clamou pela  Internet para poder chegar o terminal bancário. O Mais Educação na escola que foi suspenso. O apoio para aquisição de equipamentos para agroindústria de babaçu. Tuniquinho voltou a falar da ociosidade dos jovens, que sem ter o que fazer ficam zanzando nas praças à noite e consumindo drogas. As drogas empesteiam o distrito. A escassez de policiamento.  O Diretor da Escola General Osório, pediu reforma da quadra e da escola que tem várias paredes danificadas. 

Eu fiquei reparando a fala de todos. A riqueza de suas expressões calmas e pacíficas e profundamente cordiais. Percebi a natureza dos seus pedidos, a distância do Estado, na solução de pequenos problemas, antes de tudo, pleitos  justos e essenciais. De agora em diante vou trabalhar cada ponto solicitado,  porque o governo tem condições de atender tudo que foi falado e  pude constatar no lugar, como a mais pura expressão da verdade. Não sei o que venha a significar a palavra Calama, até me parece que tem a ver com calma, sossego e felicidade. O rio emana todas estas condições favoráveis a uma vida  de profunda irmandade e um regime de relacionamentos solidários.