O Brasil tem um certo prazer pelo retrocesso. Tem um vezo para piorar as coisas, que nunca vi igual. A Fundação SESP foi neste país um serviço que deu certo. Até parecia que o SESP (Serviço Especial de Saúde Pública) não era no Brasil, de tanta qualidade que ela tinha. Veio dos anos 40 e se acabou em 1990. O que foi uma pena. O SESP só entrava onde tinha a miséria instalada, no Brasil esquecido, terras deserdadas, onde morava o sertanejo, o ribeirinho, onde campeava a insalubridade, o bicho barbeiro e a falta de assistência médica. Ela entrava lá.
Era um serviço planejado, bem pago, um treinamento continuado, todo mundo trabalhava com dedicação exclusiva, médico do SESP só trabalhava no SESP. Na década de 50 conheci o primeiro médico na minha cidade natal, água encanada, vacinação regular, exames básicos laboratoriais, um ambulatório organizado, oficina de saneamento para construir fossas, tampas de caixas, lixeiras, caixas d’agua. Era um trabalho fascinante de saúde pública. Que junto com a ex-SUCAM de igual valor, tocavam os serviços básicos e preventivos de saúde no Brasil miserável.
Tem poucos servidores ainda ativos. De cabelos brancos e cheios de netos. Saudosos por assistirem a degradação de serviços de saúde tão nobres e indispensáveis. Nunca mais tivemos nada igual. Serviços com disciplina, hierarquia, metas de desempenho, controle rigoroso. Cresceu muito o atual SUS, que tem grandes números para apresentar ao Brasil, não resta dúvida, mas, para as comunidades distantes, municípios carentes, nada se iguala ao que fez a saudosa Fundação SESP. Eu sou um produto e um sobrevivente de suas ações. Eu vi o serviço do SESP quando menino, veio daí o meu encanto pela medicina. Ver aquele médico vestido de branco, cuidadoso, atendendo de graça num lugarejo sem estrada, sem nenhum conforto, sem nenhuma mordomia. Era beber um gole de pinga, jogar sinuca, dar uma volta na praça, ouvir jumentos urrando e ver a lua no céu azul do sertão.
Se pelo menos um servidor da Fundação SESP ler o meu texto de hoje, já me dou por satisfeito. Por que eles mereceriam nomes de ruas e todas as honrarias dos prefeitos onde trabalharam, por seus imensos merecimentos e serviços. O meu abraço e o meu muito obrigado a todos vocês, heróis da saú de pública brasileira.
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